TRAGÉDIA NA ESCOLA - O heroísmo inspirador




Mais uma tragédia brasileira. Na manhã de quarta-feira (13) a Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na região metropolitana da Capital, foi atingida por um terrível ataque, por parte de dois ex-alunos, com armas. Os dois jovens entraram na instituição de ensino e dispararam contra funcionários e alunos. Inaceitavelmente, muitas vidas sucumbiram em um espaço onde nunca isso deveria acontecer. Busca-se entender motivações. Nenhuma delas justifica tamanha barbárie. Escolas, públicas ou não, devem sempre ser espaço de construção da Cultura da Paz, para dentro e fora dos seus muros. Nisso um relevante sentido no processo de ensino e de aprendizagem. Em períodos recentes têm ocorrido no Brasil situações de violência em escolas. Trazem muito desalento para quem nelas atua e muitas preocupações na sociedade. Muitas falas e análises. Algumas muito óbvias. Autoridades reagem com várias afirmações e projetos, além de enviarem condolências às famílias das vítimas. É preciso ir além das reações imediatas ou sentidos protocolares. Com o tempo a repercussão diminui e outro fato ou tragédia ocupará espaço. Muito do que foi dito não prospera, ou pelo menos, não avança diante do que se postulou no imediatismo.

É possível, no entanto, ressaltar alguns aspectos muito significativos, de atos heroicos no cenário dessas terríveis tragédias. Foi exemplarmente o caso da Profa. Heley de Abreu Silva Batista que Ganhou notoriedade ao dar sua própria vida, de forma corajosa, para salvar crianças na Tragédia de Janaúba. Há que ser solidário com as famílias dos alunos que perderam a vida. Inaceitável para elas saber que os filhos que saíram de casa para ir à escola, já tenham perdido a vida de forma tão violenta.

Também referenciar as profissionais que atuavam, de forma marcante, na unidade escolar. Casos de Marilena Ferreira Vieira Umezo — coordenadora da escola. E de Eliana Regina de Oliveira Xavier — funcionária da escola, as duas entre as primeiras vítimas da tragédia em questão. Profissionais que representam colegas que, em funções idênticas, atuam nas mais de 5 mil escolas estaduais. E desempenham papel fundamental para o desenvolvimento educacional e de formação para a cidadania, objetivos precípuos da escola.

E, outro importante destaque, duas sobreviventes e com papel protagonista na tragédia. Destaque e reconhecimento para a atitude de duas outras funcionárias, que estavam dentro do local durante o ataque, as merendeiras Silvana Moraes e Lizete Santos. Elas ouviram disparos enquanto serviam o lanche para os alunos, que diante dos estampidos, entraram em pânico. Começaram, então, a chamar os jovens para dentro da cozinha da escola. Cerca de 60 alunos se protegeram no local.
E, mesmo diante do terror do momento, puseram um freezer no caminho, para bloquear a entrada, caso os autores dos disparos tentassem entrar ali. Coragem e heroísmo e na sequência, responsabilidade profissional. Depois do pavoroso episódio, as profissionais retornaram para a instituição no meio da tarde.

Uma fala de profissionalismo: “Eles vão voltar para merendar, a gente precisa fazer nosso trabalho”, ou seja, os alunos retornariam. Preocuparam-se também para que os alimentos perecíveis não se estragassem sem refrigeração. Zelo com os alunos e com o investimento público. Que a nova tragédia seja superada. Que traga, nas reflexões, aprendizado. Que evidencie ainda mais a necessidade de uma Cultura da Paz, na sociedade e nas escolas. Que haja o preventivo antes do reativo. Que haja efetiva e permanente parceria entre a escola e as famílias. Entre pais e professores.

Que as autoridades valorizem o papel dos profissionais que atuam nas unidades escolares. Que programas como o ‘Escola da Família’ sejam sim aprimorados, mas, que sejam mantidos e ampliados. Que outras iniciativas que concorram para o avanço da cidadania recebam atenção e apoio. Que haja atenção para todas as escolas e períodos. Que haja atenção específica para as escolas públicas estaduais que funcionam em período noturno.

Que as unidades educacionais sejam também espaços comunitários. E que isso desarme futuras tragédias. Há, nas escolas, representativos e inspiradores exemplos de pessoas que se tornam heróis de fato. Que as tragédias nos ensinem para que não tenhamos outras.

Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 16/03/2019
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