BRUMADINHO - Até quando as tragédias ?




Entre estatais
E multinacionais, Quantos ais!
(Carlos Drummond de Andrade)

Uma nova tragédia ambiental se abateu sobre o Brasil. Em Brumadinho, agora. Há três anos, em Mariana. As explicações, de quem deveria ter tido responsabilidade sendo as mesmas. As autoridades políticas sobrevoarão o local da tragédia. Haverá expressões de pesar e solidariedade. E também muita demagogia. Porque só diante da tragédia consolidada apresentam-se as soluções? Verbas serão anunciadas. Anúncio que evidenciará morosidade burocrática e, enfim, no esquecimento que se virá até que uma próxima tragédia igual ou similar nos sobrevenha, embora não as queiramos. São bem vindas e necessárias campanhas solidárias. Mas, são paliativas, temporárias.

Então, como o País, seu povo, junto com aqueles que, de verdade, tendo responsabilidade e espaço para isso, fazer com que não tenhamos mais tais tragédias. Tantas tragédias. Nessas trágicas ocasiões, buscar na rica arte brasileira, literatura e música, por exemplo, o alento, o registro, mas, nunca o conformismo. E diante dessas múltiplas e frequentes tragédias sociais brasileiras podemos encontrar elementos para posicionamento e reflexão.

Nosso poeta maior, em 1984, tratou o tema, antes das tragédias, tanto da recente Mariana, como a que ocorre neste momento em Brumadinho. Carlos Drummond de Andrade publicou no jornal Cometa Itabirano o poema “Lira Itabira”. O poema é claramente uma denúncia, que, passados todos estes anos, é ainda lamentável e muito atual. Carlos Drummond já imaginava o conflito entre a mineradora e a vida do Rio Doce. Conflito de interesses. Que nos anos seguintes foram se materializando. O sucesso comercial da empresa ganha sempre divulgação, mas, o custo para tal sucesso, quase nunca. A tragédia de Mariana ainda está em aberta. E já nos vemos diante de outra. O impacto causado no meio ambiente, com a morte de várias espécies de peixes, animais e plantas. Apontado como o maior acidente ligado à exploração da mineração já havido no mundo. Mais que um acidente, um crime abrangente. Foi devidamente apurado?

Na resposta a tal pergunta a verdadeira explicação quanto a tragédia de Brumadinho. E, na arte, agora na música “Gente Humilde”, do compositor Garoto, com letra póstuma de Vinícius de Moraes e contribuição de Chico Buarque. Música que passou a ser conhecida em larga escala a partir de 1970, com o LP Ângela Maria de Todos os Temas.

O próprio Chico também a gravou no mesmo ano, assim como Taiguara e diversos cantores e instrumentistas. Mas é na voz da grande cantora, a saudosa, Ângela Maria, que fica fortemente registrada a tristeza do provo brasileiro “que vai em frente sem nem ter com quem contar”. Seguir em frente, sim. Conformar-se, nunca.


Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 29/01/2019
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