EDUCAÇÃO - Estudando um sonho
Um investimento de jovens em jovens. Em sentido de desenvolvimento humano. Iniciativa que precisa ganhar envergadura e consolidar-se, com o necessário apoio da sociedade campineira. O direito à educação na etapa básica, dos anos iniciais ao ensino médio, tem sido negado de muitas formas, no Brasil. A chamada universalização do ensino escolar básico, quando se anuncia, não se sustenta pela dificuldade de permanência na escola ou mesmo quando essa ocorre, há a dificuldade de acesso às etapas posteriores de formação.
Assim, gerações se perdem em seu pleno potencial cognitivo. Um reflexo da desigualdade social que traz, em suas inaceitáveis diferenciações, impactos entristecedores. Dados recentemente divulgados como parte da Síntese de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — IBGE indicam que apenas 36% dos alunos que completaram o ensino médio na rede pública ingressaram no chamado superior. Aqui se evidencia um grande contraste no quadro educacional no País.
Quando o aluno veio do ensino médio da rede privada, esse percentual é de 79,2%, mais que o dobro. A desigualdade também se evidencia quando o recorte é feito por cor. Nesse recorte, dos 51,5% dos brancos com ensino médio completo ingressaram no ensino superior em 2017. E quando considerados pretos e pardos, o percentual cai para 33,4%, acentuando a injustiça social. Na perspectiva de combate a esse quadro, tem papel de relevância os movimentos sociais pela ampliação de vagas nas universidades públicas, pela democratização do acesso e pela permanência dos alunos nesse segmento. Muito importante que haja ações de oportunidades para os jovens matriculados no ensino médio nas escolas públicas.
No caso da Estudando um Sonho, o aluno além do esforço no percurso escolar formal, passa também por um criterioso processo seletivo e a situação social familiar também é avaliada. Está entre as metas da iniciativa: despertar sonhos e impactar positivamente na sociedade. Faz todo sentido. Pelos resultados do levantamento já mencionado, quando consideradas as classes sociais, a diferença no tocante ao acesso ao ensino superior se acentua ainda mais. Segundo os dados da citada fonte a maior proporção de estudantes em faculdades se compõem por aqueles de melhor renda. Apostar na educação como importante fator de desenvolvimento humano é fundamental. E iniciativas como a que aqui tratamos, reveste-se, portanto de importância ímpar. Não por acaso, conforme está descrito na página a Missão da organização: “Apoiar a construção de autoconfiança e investir na educação de crianças, jovens e adolescentes. Despertando o genuíno desejo de sonhar, equipado do potencial de realizar.” Com tão nobres propósitos e desafios, a ONG — Organização Não Governamental Estudando um Sonho, contou, no seu lançamento oficial, com a presença de centenas de jovens e alguns dos pais ou mães em uma festa que deu o impulso financeiro inicial.
Como professor que atua no Ensino Médio público, sei da importância de uma ação assim. E dentro da especificidade da minha atuação docente, no campo da linguagem, observe-se que a polissemia — quando a palavra adquire diversos sentidos. O vocábulo ESTUDANDO é uma dessas palavras. É verbo de ação em um determinado momento, gerúndio. Significa ainda o ato de continuamente estudar. Mas, pode também significar algo que está sendo analisado, ou pensado, ou projetado. E, nesses vários significados, remete ao sentido de sonhar. O primeiro processo seletivo para o recebimento do apoio está em fase de conclusão. Outras ações de sustentabilidade das ações estão em curso. Que tenham o necessário apoio para que, pela Educação, tenhamos uma sociedade justa. Que juntos possamos estar. Estudando um Sonho.
Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 18/12/2018
EDUCAÇÃO - Estudando um sonho
Reviewed by Edison Lins
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