O exemplo de ‘dona’ Roseli

As boas iniciativas de gestão pública que, concreta e indubitavelmente, trazem melhorias para a sociedade, precisam ser sempre reconhecidas. Nem sempre são. Prevalecem, por vezes, injustas generalizações. E tais iniciativas, de boas práticas, se realizam no comprometimento e dedicação profissional, individualmente ou em equipe. Além do justo reconhecimento às práticas meritórias é também a torcida para que essas inspirem e se perpetuem. Que sejam, pelos seus resultados, referências exemplares para outros profissionais e outras equipes. Nesse replicar ganha a sociedade que tem, por exemplo, no serviço público, em suas diversas áreas, o acesso a direitos fundamentais. Educação é um deles. Há um forte sentido de reconhecimento e inspiração ao falar da gestão da Profa. Roseli de Fátima Silva, diretora, recentemente aposentada, de uma escola pública. Marcante atuação. Faz-se necessário, então, contar um pouco sobre o antes e torcer para que o depois prossiga na mesma linha. Ressalte-se que investir na Escola Pública é muito importante. Afinal, é um privilegiado espaço de desenvolvimento humano aberto a todos. Fui aluno da EE Prof. Aníbal de Freitas na década de 1970. Na época a escola ficava no Centro de Campinas, em um prédio onde antes funcionou o tradicional Colégio, o Ateneu Campineiro. Mantinha, o colégio público, um pujante ensino noturno para jovens e adultos. Naqueles duros anos, nosso país sob uma repressora ditadura, o ensino básico público noturno era, como ainda é, um espaço imprescindível para quem trabalha durante o dia. O então Colégio Estadual Aníbal de Freitas dava acolhida com muitas salas em pleno funcionamento, professores qualificados e dedicados.

E houve, então, o anúncio de que a escola iria mudar-se para um prédio novo. E seria no belo bairro Guanabara que, embora próximo ao centro de Campinas, parecia à época, muito distante. Impressão certamente reforçada pelo apego afetivo que havia com a antiga localização, além de aspectos de mobilidade, por localizar-se em área central. A mudança física necessária, embora não discutida, inexoravelmente aconteceu. E a vida seguiu. O velho Aníbal, agora em novo prédio, continuou cumprindo seu relevante papel de formação educacional em um processo cheio de mudanças das nomenclaturas decorrente de sucessivas reformas educacionais por que passa a educação brasileira. Instabilidade que permanece. O colégio Aníbal transitou então do chamado Ginásio, depois o Fundamental II, do Colegial para o Ensino Médio. A escola pública não está imune aos desafios e complexidades sociais pelas quais passa a sociedade. As crises gerais, a ausência das famílias, etc... atingem também os espaços educacionais. O Aníbal passava por uma dessas fases de desafios, em 2007, quando Dona Roseli, natural da pequena Manduri, chegou para dirigir o estabelecimento educacional, em uma grande cidade, sede de uma importante região metropolitana.

Aos poucos e com firmeza e metas foi estabelecendo seu estilo na condução da escola. Com apoio e participação da sua equipe, otimizando recursos da estrutura da rede, enfim, sendo efetivamente diretora, estabeleceu um padrão de qualidade social e educacional. Seu exemplo representa o conjunto dos diretores de escola pública e é inspirador ao mostrar que é possível superar desafios, que não foram poucos, na busca de qualidade e resultados de excelência. E ainda, um aspecto relevante, contando com apoio de famílias que, pelo interesse na escola de qualidade para seus filhos, lhe prestaram solidariedade e apoio. A participação e o interesse das famílias em relação á educação dos filhos é fator determinante para o êxito no processo de formação. São dela mesmo, da diretora Roseli, ou “Dona Roseli”, as seguintes informações: “...em 2010 a escola já estava bem na linha, atingimos 120% da meta de avanço educacional em 2012...esse resultado revelou que com boa administração os professores tiveram condições de dar uma boa aula e os alunos aprenderem o necessário, expressando um ensino de qualidade.”

E, corroborando com tal assertiva, fui professor em 2017, de um animado e inesquecível “terceirão” nessa escola onde fui aluno. Escola organizada, bem apresentada, com alunos, em maioria, respeitadores e com foco nos estudos. Fruto de um exemplar trabalho de gestão escolar. Gestão pública de qualidade. Que tal legado permaneça e inspire outros com a mesma determinação. Fica o registro dos alunos, das famílias e da equipe de profissionais que reconhecem o importante trabalho realizado.

Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 03/07/2018