MENINOS TAILANDESES - Superar as ‘cavernas sociais’




Há pelo mundo afora, unânime respiro de alívio com a notícia de que todos os meninos e o treinado tailandeses, de um time de futebol daquele país, que ficaram várias dias presos em uma caverna, foram resgatados com êxito. O grupo foi encontrado no dia 23 de junho no interior do conjunto de cavernas, que tem 10 km e lá já estavam há dias. Foram vários dias de permanência em uma caverna com profundidade de até 1 km até a superfície. E há várias lições que podemos, enquanto sociedade humana, abstrair desse fato, envolvendo os ‘ Javalis Selvagens’ que tanto mobilizou a atenção mundial. A solidariedade, que deveria sempre ser a essência e a marca da humanidade, evidenciou-se sobremaneira no caso.

Mesmo diante de outro evento de forte atração, a Copa Mundial de Futebol, a notícia dos meninos tailandeses mobilizou a mídia e a atenção da população. Certamente todos pensaram “e se fosse com um dos meus?”, e assim uma solidária torcida estabeleceu-se e ganhou força impactante. Ao todo, 19 mergulhadores fizeram parte da equipe de resgate, que conta ainda com equipe da marinha tailandesa e de um médico. Mais de 90 profissionais participam das operações.

Além dos aspectos solidários, expressos pela identificação e na torcida, também foi preciso mobilização prática de muitos para que o objetivo de salvar as preciosas vidas fosse alcançado. Esforços assim são necessários para outras superações nos dramas de dimensões sociais importantes. Pensando em todos os meninos, enfim, nas crianças do mundo inteiro, necessário se faz mobilização idêntica para que crianças de muitos países não passem fome. Infelizmente são frequentes as fortes imagens dos efeitos da desnutrição infantil. E devemos também refletir, a partir do fato de impacto mundial, nas crianças de nosso país, é preciso que se juntem esforços de várias competências para que, metaforicamente, nossas crianças, em especial aquelas desprovidas dos seus direitos básicos, também sejam resgatadas das suas cavernas sociais. Abismo, pensando agora de forma específica no Brasil, que bloqueiam delas, meninos e meninas adolescentes, o necessário acesso à educação e à dignidade, agora e no futuro. Vários foram os desafios enfrentados pelas equipes salvadoras na Tailândia. Risco de vida. Avaliação e Planejamento foram necessários. E, obviamente, muita precisão na execução. Assim também precisa ser, no Brasil, o processo que traça e articula as políticas públicas destinadas às nossas crianças e adolescentes. Nem sempre são.

Há muito imediatismo, até bem intencionado, mas, que não produzem os resultados necessários. A avaliação e a revisão nem sempre ocorrem de forma objetiva. Considerando a Educação como elemento primordial para o desenvolvimento humano, os desafios brasileiros nesse campo são complexos e imensos. Há milhões de crianças fora da escola, etapas dos anos iniciais e no nível fundamental. E há forte evasão escolar no ensino médio. Dados atuais, 2018, revelam que as matrículas do ensino médio, talvez o maior desafio dentro da nossa educação básica, tiveram queda em 2017, no momento em que deveria ter havido movimento de inserção.

Há, no Brasil, cerca de 1,5 milhão de jovens de 15 a 17 anos, faixa etária dos meninos tailandeses, fora da escola. E, para os concluintes do ensino médio, depois de enfrentar os mais diversos percalços, há a busca de oportunidades profissionais, do primeiro emprego, da continuidade dos estudos em nível superior.

Enfim, Educação é um dos aspectos. Há outros. Itens relevantes como Saúde, Segurança e tantos outros fazem parte do rol da pauta social brasileira. Que a atenção e a solidariedade demonstrada para a situação específica, não menos importante, seja inspiradora e extensiva também para todos os jovens e adolescentes do planeta. E do Brasil. Resgatá-los, então, das ‘cavernas sociais’


Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 12/07/2018
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