DIGNIDADE - O discurso de Oprah Winfrey



A luta pela dignidade humana, mais necessária que nunca, possui várias dimensões. Deve ser fator de convergência e união entre todos os povos e nações, permanentemente. A propósito disso ganhou imensa repercussão e reconhecimento, para muitos, como representativo, o histórico discurso da apresentadora norte-americana Oprah Winfrey, ao ser homenageada no evento de entrega do prêmio Globo de Ouro 2018. Embora o acontecimento aqui tratado tenha ocorrido nos Estados Unidos, os temas e os desafios estão presentes aqui no Brasil e em muitos países. Na solenidade, com presenças de expoentes do cinema e da televisão, apontando os maiores destaques e premiando aqueles que, pelos critérios da organização, são considerados os melhores do período.

Considerando as recentes denúncias de repudiáveis assédios, também houve, no evento, protesto de atrizes que, de forma organizada, foram à cerimônia vestidas de preto, rechaçando o assédio sexual sofrido pelas mulheres na glamorosa indústria de entretenimento. Consideremos, tanto o admirável discurso de Oprah, que foi aplaudida de pé, e o movimento de protesto, como expressões de uma luta universal pelo respeito à dignidade humana. Uma luta permanente que, agora, ganha maior dimensão diante da velocidade com que os fatos passam a ser conhecidos, analisados, criticados, aprovados e rejeitados.

A ampla e imediata repercussão nos veículos de comunicação e nas redes sociais, o discurso e os protestos, evidenciam a identificação com as causas, mais fortemente, no contexto, contra o assédio sexual e combate ao racismo. O apoio majoritário para tais causas reforça sobremaneira a defesa dos direitos individuais e da dignidade da pessoa, como essenciais para o ser humano. O discurso de Oprah Winfrey traz citações emblemáticas. Ao citar histórias de conquistas e de sofrimento de pessoas que representam, de um lado, a importante e necessária luta pela igualdade racial e de oportunidades e, de outro, no contexto abrangente da luta pelo respeito às mulheres. Facetas, então, da grande luta pela dignidade humana de muitas frentes e diversificadas expressões. A apresentadora Oprah, no seu impactante discurso fez citações exemplificadoras, cujos marcos apontam também o caráter da universalidade naquilo que expressam. Citou o ator negro Sidney Poitier, que recebeu, em 1964, o Oscar de melhor ator pela atuação no filme “Uma voz nas sombras”.

A luta por oportunidades iguais para todos, também no campo das Artes, é também pauta recorrente no Brasil. Há aqui uma árdua luta em curso. Oprah, no seu já célebre discurso, deu ampla divulgação a outro caso emblemático, referindo-se ao ocorrido em 1944, com Recy Taylor, estuprada por seis homens brancos no estado do Alabama, quando voltava de uma atividade religiosa. O hediondo crime do estupro, das mais abjetas expressões de violência, faz parte permanente do noticiário em nosso país, em nossa cidade. O caso de Recy ficou sob responsabilidade da ativista Rosa Parks, cuja história é mais conhecida entre nós. Parks ficou positivamente famosa, cerca de dez anos depois, ao se recusar a ceder seu lugar em um ônibus para um homem branco, dando início ao boicote dos ônibus de Montgomery em movimento mais amplo e, assim, simbolizando fortemente a inspiradora luta pelos direitos civis dos negros americanos. Taylor havia falecido dez dias antes da solenidade.

Exemplos assim também existem no Brasil, busquemos conhecê-los e divulgá-los, como denúncia e como forma de combate a essas situações que afrontam a dignidade humana. Apropriadamente, ao receber o prêmio Cecil B. De Mille pelo conjunto da carreira, Oprah Winfrey escolheu Recy Taylor, cuja história precisa ser amplamente contada e recontada, como expressão da busca de justiça não havida no seu caso e, por isso mesmo, foco da luta contra o racismo e da violência contra mulheres. Disse a apresentadora: "Recy Taylor morreu há dez dias, perto de seu aniversário de 98 anos. Como todos nós, ela viveu anos demais em uma cultura quebrada por homens brutalmente poderosos. E por tempo demais as mulheres não foram ouvidas, ou não se acreditou nelas quando ousaram falar sua verdade contra o poder desses homens. Mas o tempo deles acabou... o tempo deles acabou". Que tenha acabado mesmo. E, para isso, a luta pela dignidade humana, deve fazer parte da missão de homens e mulheres pelo mundo afora até que isso se confirme.

Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 20/01/2018
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