Unicamp, os desafios

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), cuja excelência é reconhecida no País e internacionalmente, acaba de passar por mais um processo de sucessão. O governador Geraldo Alckmin já nomeou o novo reitor, Marcelo Knobel. O debate intenso, no clima democrático que cercou o pleito, foi de excelente nível. Os desafios da importante instituição foram expostos em programas e ideias, com cinco candidaturas. E mesmo na emoção de apoiadores, foi mantido o nível de civilidade, como deve mesmo ser sempre processos assim, especialmente no meio acadêmico, onde precisa prevalecer o debate de ideias e trabalho.

O novo reitor tem muitos desafios, assim como todos os seus antecessores, na linha do tempo dos reitores, iniciada pelo saudoso Zeferino Vaz, visionário fundador da Unicamp. O professor Zeferino empreendeu, de forma ousada, para trazer à Unicamp alguns dos melhores cientistas brasileiros, como fator relevante para consolidar uma instituição de pesquisa respeitada por sua qualidade. Com esses cientistas vieram também funcionários qualificados e com papel relevante nos primeiros tempos da universidade, fato que foi sendo reproduzido pelas etapas posteriores e evidenciado na celebração dos 50 anos da Unicamp, em 2016.

Há na universidade o orgulho de quem nela trabalha por sua grandeza qualitativa e quantitativa. Vários rankings nacionais e internacionais classificam, reiteradamente, a Unicamp como uma das melhores universidades do mundo. Todas as suas unidades de ensino e pesquisa participam efetivamente do esforço para que esse reconhecimento seja sempre mantido e ampliado. Seu vestibular é dos mais concorridos do País. Da mesma forma é imensa a procura por seus programas de pós-graduação. Seus colégios técnicos estão sempre entre os melhores e são referências como qualidade da escola pública. Responde sozinha por cerca de 15% da produção científica brasileira. Também produz mais patentes do que qualquer outra organização de pesquisa brasileira. O seu complexo hospitalar tem forte impacto na Região Metropolitana de Campinas, no estado de São Paulo e em estados vizinhos. Na verdade, gente do país inteiro e do Exterior é alcançada pelo atendimento, em situações diversas de tratamento de saúde.

A história da universidade referencia a sua grandeza. Seu fundador, uma figura emblemática, esteve à sua frente por muitos anos e traçou relevantes diretrizes para a universidade. Houve crises, como a de 1981, quando o governo estadual interveio na universidade, fato gravíssimo e de grande repercussão, superado pela resistência dos alunos, funcionários e docentes que foram às ruas de Campinas, recebendo expressivo apoio da população. A partir desses acontecimentos, a Unicamp viveu intenso processo de institucionalização. Houve, assim, um profícuo período de reestruturação. O Conselho Universitário (Consu) substituiu o antigo Conselho Diretor. Para o Consu, além da composição que conta com membros natos composto pelo primeiro escalão da universidade e diretores de unidades, foi finalmente implantado processo democrático de eleição para representação de funcionários, alunos e docentes. Em 1989, após greve duradoura e com grande adesão de funcionários e professores, apoiados pelos alunos, as universidades garantiram autonomia da gestão financeira.

Pois bem, a história mostra que as crises da Unicamp, sempre foram superadas por sua grandeza. Com ideias e trabalho. São esses os atributos do quadro funcional, funcionários e docentes, que a universidade possui, junto com os alunos, seu maior patrimônio. Reconhecimento forte desde os primeiros tempos da universidade, na visão do seu fundador. A grandeza histórica da Unicamp deve ser inspiração e garantia de superação de crises. Uma crise financeira, por exemplo, envolve fatores que não dependem da universidade, mantida com repasse, por parte do governo estadual, de percentuais do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS), na verdade uma conquista que decorreu de uma crise no final dos anos de 1980. Passado um tempo de mais de duas décadas e meia, a sustentação financeira da universidade esteve nos debates da sucessão e está na pauta de preocupações de todos os que reconhecem a grandeza e a importância da Unicamp. Grandeza que encontra nas pessoas que trabalham ou estudam na grande universidade, seu maior patrimônio, desde sempre.

Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 11/04/2017