Ponte Preta, 40 anos depois

A final do Campeonato Paulista de 2017 coloca novamente a Ponte Preta e o Corinthians na disputa pelo grande título. 1977, um ano emblemático para os dois times. Tristeza para um e alegria para outro. Fatos objetivos misturam-se a sentimentos subjetivos. Um jogo que expressa a grande paixão do brasileiro pelo futebol. E, para as duas torcidas apaixonadas, especialmente para os torcedores da “Macaca Querida”, esse jogo tem história. Insere-se no contexto de uma grande paixão desportiva, que é explicada sob diversos ângulos. A conquista de cinco Copas do Mundo é um dos motivos que sedimenta o forte sentimento pátrio em relação a esse esporte que move multidões, gera muitos milhões de arrecadação e, assim, movimenta uma máquina economicamente poderosa. E perpassa sonhos e projetos de meninos e meninas pelo País afora, como projeto de vida. De sucesso na vida. O sucesso desse esporte coletivo possui registros em várias expressões musicais, filmes, livros. Temos Pelé, o maior jogador de futebol de todos os tempos, também Garrincha e tantos outros jogadores talentosos, lendários e de referência mundial. E, nesse movimento impressionante e fator de integração nacional pelo mesmo esporte, cada time possui o seu hino, com letras naturalmente ufanistas e melodias contagiantes.

Gilberto Freyre defendia que o talento do brasileiro para o futebol era graças à grande miscigenação dos povos e suas raças. O historiador Leonardo Affonso de Miranda Pereira apontou fatores que fizeram com que esse jogo, criado na Inglaterra, assumisse paixão tão popular e grandiosa nesse país de dimensão continental, com times e estádios espalhados em seu extenso território. O referido historiador trabalhou, em 1998, essa questão na sua tese de doutorado. Surge desse qualificado estudo acadêmico o livro, "Footballmania. Uma história social do futebol no Rio de Janeiro (1902-1938)". Com isso conquistou, em 2001, o Prêmio Jabuti de Ciências Humanas. Em pelo menos quatro anos de pesquisa, Pereira identificou vários pontos que fazem do futebol um esporte especial para o brasileiro, tais como: sempre ter sido um esporte popular, de massas, ser diversão para a população, expressão de representação nacional e o forte e permanente sentimento de que temos o melhor futebol do mundo. Os traumas de 1950 e de 2014, que se repete, em maior ou menor dimensão, a cada derrota da seleção, não abalam essa convicção e os campeonatos estaduais, seguido pelo Campeonato Brasileiro, vão mantendo, consolidando e ampliando tal sentimento.

Para as duas torcidas dos times dessa final, 1977 traz lembranças e reflexões. Corinthians, então há 23 anos sem o título, e a Ponte Preta, com um memorável time, preparada para ser campeã. O Brasil ainda sob a ditadura militar. A música mais tocada nas rádios naquele ano foi “Amigo”, do Roberto Carlos. Os quarentões de hoje estavam nascendo. Os atuais cinquentões ou sessentões eram garotos ou adolescentes. Dois times de torcidas ardorosas. A Ponte Preta, fundada em 1900, tem uma rica e significativa história, que traz orgulho aos seus torcedores, além do futebol que apresenta ao longo dessa história, ainda sem um grande título, mas um diferenciado conjunto de conquistas. 1977, quarenta anos depois. Reverências àquele memorável plantel da Ponte, com o mestre Dicá e um inesquecível time, que o torcedor da Macaca ainda hoje cita nome a nome, encarou com maestria a final do campeonato. Mas, o campeão foi o Corinthians. Depois os dois times voltaram a decidir o Paulistão em 1979, novamente com título corintiano. A Ponte chegou a outras finais do Paulista, em 1981 (perdeu para o São Paulo) e 2008 (perdeu para o Palmeiras). Agora, quatro décadas depois, impossível não vir à lembrança a polêmica decisão. Mas, com o necessário espírito desportivo, que vença o melhor time. E, como torcedores, que o melhor time seja a nossa amada Ponte Preta. Orgulho desta terra.

Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 29/04/2017
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