O qualificador resultado da escola pública



Sequência de resultados positivos, obtidos por alunos de escolas públicas em vestibulares dos mais concorridos, demonstra que essa importante instituição da sociedade, a Escola Pública, no papel educador e formador que lhe compete, possui qualidade maior do que os recorrentes apontamentos críticos que são feitos. Assim, faz-se possível, novamente, afirmar que há qualidade na escola pública, e atestar a validade dos diversos programas afirmativos de acesso, incentivando alunos das escolas estaduais, federais e municipais. E com olhar mais abrangente poderá verificar que, na verdade, os programas afirmativos valorizam o mérito acadêmico.

Neste ano a estudante Bruna Sena, de uma escola pública de Ribeirão Preto, alcançou a nota mais alta da Fundação para o Vestibular (Fuvest) da Universidade de São Paulo (USP), talvez o mais concorrido do País, e exatamente no seu curso mais concorrido, o de medicina no campus de Ribeirão Preto. A estudante, de 17 anos, que sempre estudou na rede pública, superou 6,8 mil candidatos que disputaram as 90 vagas de graduação no curso citado, ficando em 1º lugar. E, para ela, há ainda outro marco: com a relevante conquista, ela é a primeira pessoa da família a ingressar no Ensino Superior. Outro resultado que explicita qualidade no ensino público básico brasileiro está nos resultados do vestibular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também dos mais disputados: ao divulgar sua primeira chamada dos aprovados no vestibular de ingresso no ano letivo de 2017, a universidade destacou o fato de que, pelo segundo ano consecutivo, mais da metade de alunos convocados são de escolas públicas, com uma porcentagem de 52%. Em 2016, o índice havia sido de 51,9%.

São dois resultados entre muitos outros espalhados pelo País afora. O acesso de alunos do ensino público em universidades públicas de excelência e também o ingresso em instituições particulares de referência é algo que merece destaque sempre. Afinal, os resultados de diversas avaliações apontam ensino público brasileiro, sobretudo o Ensino Médio, como algo sempre problemático. Claro que há problemas, assim como também há na rede particular. Contudo, há na escola pública, qualidade. Que decorre do trabalho de profissionais qualificados e de alunos interessados. Torcer e trabalhar para que alunos vindos da escola pública, com justiça, pautado em resultados de excelência, como os já mencionados, deixem de ser vistos como fenômeno circunstancial. Já não em universidades públicas ou nas instituições particulares, pelo bom desempenho obtido no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), através do Programa Universidade para todos (Prouni).

Programas de ações afirmativas, cotas e o Enem, em seus aspectos inclusivos, considerando o mérito e o esforço, tornam-se instrumentos de justiça e equidade social. Entender a Escola Pública e os diversos fatores que nela estão implicados, seu alcance e a sua qualidade, relacionados à construção efetiva da cidadania, conscientizando e preparando cidadãos para os desafios sociais e posicionamento diante deles, a inserção no mundo do trabalho, é um desafio cada vez mais consistente colocado para a sociedade brasileira. Há um tripé que estabelece condições para o alcance quantitativo e qualitativo da escola pública, resumidamente: o acesso inicial, que o Brasil tem alcançado com algum êxito; a permanência, questão desafiadora e cujo enfrentamento passa por diversos fatores; e a qualidade, sempre em debate e em perspectivas saudosistas de que antes esse ensino era melhor. Os diagnósticos usados para explicar a chamada queda de qualidade da escola pública no Brasil traz quase sempre a ideia de que a piora está relacionada ao processo de universalização. Será? Se é necessário considerar que o processo de universalização da educação básica ocorrido no Brasil não se fez acompanhado da estrutura necessária, e também sem a devida valorização dos professores em diversos aspectos, entre eles o salarial, se olharmos para trás temos que a escola pública que existia no Brasil anteriormente à conquista social da universalização, era uma escola em que, de cada 100 crianças que nela ingressavam, apenas por perto da metade passavam na primeira série e somente entre 12 ou 14 chegavam à 4ª série primária. Assim, uma escola apresentada como de qualidade, no entanto, para muito poucos. A educação de qualidade precisa ser para todos.

Olhar para a frente, reconhecendo e celebrando os resultados cada vez mais consistentes dos egressos da escola pública, ampliar a mobilização da sociedade para a importância que a educação pública exerce. Promovendo a valorização dos profissionais da educação, também adotando políticas educacionais de longo prazo, com efetiva participação desses profissionais. Incentivar os alunos, tendo como referência os resultados dos seus pares que aqui foram citados. A crítica boa e construtiva não pode ser baseada em apontamentos unilaterais, se faz também reconhecendo que há qualidade na escola pública. Há resultados muito qualificadores, a despeito dos imensos desafios a serem enfrentados.



Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 04/03/2017
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