CONSCIÊNCIA NEGRA - Ruby e o combate ao racismo

A Lei nº 12.519, publicada em 2011, oficializa nacionalmente o dia 20 de novembro, que já era celebrado em muitas localidades do País, como o Dia Nacional da Consciência Negra. Que a data seja para a nossa sociedade, em especial nos ambientes educacionais, momento de reflexão e de avanços no posicionamento contra o racismo, abominável, assim como são todas as formas de preconceito. A data é feriado em pelo menos mil cidades brasileiras, caso de Campinas. E nos estados de Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso e Rio de Janeiro. Momento significativo para reiterar de posicionamentos e debater, por exemplo, sobre a inserção e a situação do negro em nossa sociedade, consolidar princípios pela igualdade racial, resgatar memórias e fazer delas um forte manifesto cidadão.

A data coincide com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, herói brasileiro, ocorrida em 1695. Foi ele grande líder do maior dos quilombos do período colonial, o Quilombo dos Palmares. A luta contra o racismo é travada em todos os dias, em cada resistência ou denúncia. E a data nos remete à resistência do negro contra a escravidão de forma geral, desde o primeiro transporte de africanos para o solo brasileiro que teria ocorrido em 1549. Uma luta que não pode parar enquanto esse mal não for totalmente erradicado, em todas as partes do planeta. Não são raras as notícias sobre situações racistas que, lamentavelmente, ainda ocorrem no comércio, nas escolas, em clubes, nas ruas, em portarias de prédios, enfim, na sociedade.

As escolas têm papel fundamental na conscientização e como frente de combate ao racismo e todas as formas de preconceito. A luta por cotas raciais nas universidades públicas brasileiras insere-se nessa ampla frente de combate e de reparo pelos danos que dele resultam. Como luta universal, importante divulgar referências dela. É o caso de Ruby Bridges, hoje ativista negra nos Estados Unidos da América, e o sentido de denúncia e de resistência que sua história traz. História que a faz um ícone do movimento pelos direitos civis em seu país e exemplifica uma luta mundial. O fato histórico, relatado em livro, ocorreu na cidade de Nova Orleans quando Ruby tinha 6 anos e protagonizou, descendo das escadarias de uma escola escoltada por policiais federais dos EUA, uma das mais célebres fotos do século XX. A polícia da cidade negou proteção à garota diante da sanha racista. O Supremo Tribunal dos EUA decidira o fim do hipócrita: “separados mas iguais” na educação para crianças afroamericanas. Escolas no sul daquele país ignoraram a decisão. Ao estado de Louisiana foi dado o prazo até final de setembro de 1960, para integrar as escolas de Nova Orleans. Ruby Bridges era apenas uma das cinco crianças negras que passaram no teste para determinar quais seriam as crianças que seriam enviadas para as escolas dos “brancos”. Aliás, teste havia sido elaborado de uma maneira para que as crianças negras não fossem capazes de passar.

A família de Ruby tomou a decisão de lutar por seus direitos e inscreveu a pequena no primeiro grau de escola para brancos. Ela seria a única criança negra lá. Corajosamente, a família de Ruby tomou a decisão de lutar por seus direitos. Ruby chegou para seu primeiro dia de aula com uma escolta de quatro agentes federais e foi recebida por uma vergonhosa multidão racista e enraivecida. Mães furiosas tiraram as suas crianças da escola, alegando que elas só voltariam quando Ruby deixasse o local. Por todo aquele ano letivo a escola ensinou apenas para cinco alunos. Ruby e outros quatro estudantes, brancos. A família da garota foi atingida, seu pai perdeu o emprego, e seus avós, meeiros, foram desligados de suas terras. O acontecimento trouxe também exemplos dignificantes. A comunidade negra, com alguns integrantes brancos opostos ao racismo, foi solidária. Conseguiram outro emprego para seu pai. Ruby Bridges, pelo episódio e pela atitude da família, tem papel importante na integração racial dos EUA, a partir das escolas. Tornou-se um símbolo da luta pelos direitos civis. Preside a Fundação com seu nome, por ela fundada em 1999, para promover “os valores da tolerância, respeito e valorização de todas as diferenças” . Vale a pena conhecer mais detalhes dessa importante história, aqui bastante resumida. No link: https://www.youtube.com/watch?v=I3x_S7APXj4 o encontro entre Ruby e Barack Obama na Casa Branca. História que, como tantas outras, ensejam o combate ao deplorável racismo. Que a cada 20 de novembro se fortaleça, a luta contra o racismo, inaceitável forma de preconceito.

Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 19/11/2016
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