educação - Celular em sala de aula

A informação que a SEE – Secretaria de Educação do Estado de São Paulo estuda revogar a lei que proíbe o uso de celular em sala de aula reforça uma discussão oportuna e de muita relevância, no contexto do uso da tecnologia como ferramenta de aprendizagem. No caso, em ambiente escolar.

O uso do celular é proibido em toda a rede estadual com base na lei 12.730/2007. No entanto, o celular é uma forte marca dos tempos atuais e, claro, presente também nas escolas. Certamente muitos alunos já usam o celular para pesquisas fora do ambiente escolar. A escola é parte e reflete a sociedade. O uso de tecnologia em sala de aula é um tema recorrente e, caso do uso do celular, um desafio adicional para os professores. Debates, avaliações e troca de experiências se fazem necessários.

No ano de 2015, por exemplo, uma parceria específica entre a E.E. Prof. Adalberto Prado e Silva, vinculada à Diretoria Campinas Leste e Pontifícia Universidade Católica de Campinas, a PUCCampinas, através da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários, desenvolveu-se, sob supervisão dos docentes da instituição prof. Duílio Fabri Jr., e Fabiano Ormaneze, o projeto “Reflexões críticas sobre a mídia no processo de educomunicação”, no qual foi trabalhado o uso de tecnologias, inclusive do celular, como recurso de pesquisa e instrumento pedagógico. Um aspecto dos mais interessantes, no referido curso, apontou para a valorização daquela escola pública, seus alunos e seus profissionais. Para isso pesquisou-se o que a mídia local já havia divulgado sobre a unidade escolar. Um projeto significativo que poderia, por convênio institucionalmente colaborativo, alcançar toda a rede.

Ao revogar uma lei proibitiva quanto ao uso do celular como instrumento pedagógico, é preciso que a SEE, concomitantemente, desenvolva ou amplie programas específicos de atualização, com trocas de experiências, para que todos os professores possam se apropriar dessa possibilidade. Os espaços de tecnologia, e outros recursos que poderiam ser mais utilizados nas escolas já requerem maior atenção das instâncias administrativas e de formação continuada. Na rede estadual paulista e em todas as redes. Muitas escolas, na rede estadual, possuem salas com microcomputadores, por exemplo. No entanto, o valioso e necessário trabalho dos estagiários ou monitores para operacionalizar o espaço foi contingenciado, o que tem prejudicado muito o uso desses ambientes. Recursos importantes como as bibliotecas escolares, a maioria com acervo de muita qualidade, não contam com profissionais bibliotecários que poderiam ampliar o acesso e o uso orientado de espaço tão relevante, inclusive com utilização de novas tecnologias. Permitir o uso do celular de forma isolada, sem as providências complementares necessárias, inclusive em sentido de não aprofundar a exclusão e que viabilizem o uso, poderá frustrar expectativas. Já há o uso, com êxito, do celular como recurso pedagógico na referida rede. Em 2015, no Seminário de boas práticas escolares promovido, na Unicamp, pela Diretoria de Ensino Campinas Leste, foram mostradas situações de uso do celular, com resultados muito positivos. Foram apresentados projetos de linguagens multimídias na construção da cidadania e vivência social a partir de temas previstos nos conteúdos curriculares.

Certamente há, em muitas escolas da rede estadual, outros projetos da mesma natureza, com uso do celular. É possível, a partir dessas experiências, validar o uso do recurso de forma mais abrangente. Matéria recente publicada no Correio trouxe exemplos interessantes de uso do celular no ambiente escolar. Na mesma matéria, a Secretaria de Estado da Educação diz que a proposta em estudo é baseada no auxílio da tecnologia no ambiente pedagógico. Considere-se, o que a matéria citada faz, a pesquisa de 2014 sobre o uso das tecnologias nas escolas brasileiras, através do Comitê Gestor da Internet no Brasil revelando, entre outros indicadores, que 64% dos professores de escolas públicas acessam a rede por meio do celular. Em 2013 o percentual era de 36%. Outros dados podem ser consultados em http://cetic.br/pesquisa/educacao/publicacoes. Portanto, absolutamente pertinente à discussão. Que os professores sejam ouvidos.

Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 17/09/2016