educação - A reforma do Ensino Médio

A recente matéria publicada no Correio Popular, sobre os preocupantes índices de evasão escolar na Região Metropolitana de Campinas (RMC), sobretudo no Ensino Médio, reforça um tema que nunca saiu da extensa pauta dos nossos desafios educacionais: o Ensino Médio persiste, há muito, como sendo o período mais complexo da nossa educação básica. A taxa brasileira de evasão escolar compromete o que se chama de universalização do acesso à educação básica, anunciada no final do século passado e que, diante da evasão escolar, não se confirma de forma efetiva. A matéria do Correio diz que, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), na RMC, de 20 cidades, em oito delas o índice de evasão escolar no Ensino Médio é maior que a média estadual. Por sua vez, o índice no Estado de São Paulo é maior também que o de Pernambuco, estado que lidera positivamente, no País, o ranking dos estados com menor índice de evasão. A média em São Paulo ficou em 5% e em Pernambuco 3,5%. Em Campinas o percentual ficou em 6,5%. Vinhedo e Holambra 8,4% e em Santo Antônio de Posse, o Índice de evasão escolar é ainda maior, 10,8%. Morungaba, Engenheiro Coelho e Monte Mor também estão com os índices acima da média do Estado. O destaque positivo da RMC foi Jaguariúna, com taxa de 0,1% de evasão escolar, mostrando que é possível reduzir os índices de um mal que afeta sobremaneira a escolarização formal dos jovens.

A evasão do Ensino Médio, segundo estudos diversos, resulta de alguns fatores objetivos, como a desmotivação dos alunos diante de um currículo que, em alguns aspectos, precisa mesmo ser revisto. Outra das causas enumeradas vincula-se ao quadro social do País. Os adolescentes precisam iniciar a vida profissional para o próprio sustento e contribuir para a renda familiar. Estranhamente é cada vez menor a oferta do Ensino Médio noturno público e tampouco há uma política educacional específica para o referido período. É urgente que se reflita sobre isso.

O governo estadual anuncia novidades para o Ensino Médio em 2016. A rede estadual é uma das maiores redes educacionais do mundo. Uma reforma aqui, que de fato responda aos já conhecidos desafios dessa etapa, na rede paulista, traria forte impacto. Que não seja então uma reforma de gabinete. A participação ativa dos professores, gestores e especialistas, além de considerar a opinião dos alunos, possui a relevância do sine qua non.

A rede estadual paulista já teve um modelo avançado para o Ensino Médio, a chamada Escola Vocacional, na década de 1960. Experiência absolutamente qualificada. Infelizmente abortada em circunstâncias lamentáveis, na ditadura militar. Recuperar conceitos e diretrizes daquele modelo poderia ser um caminho interessante. Há que ter a manutenção de um conjunto de disciplinas obrigatórias que traga efetiva contribuição na formação dos alunos. Mas deve-se considerar o perfil diversificado e os interesses dos alunos que precisam ser contemplados e incentivados. Talentos são perdidos diante da ausência de uma grade curricular que responda a características e potencial de todos os alunos. Muitos estudos e apontamentos de especialistas e de quem atua no Ensino Médio nem sempre são considerados nas anunciadas reformas. É preciso criar condições para um trabalho compartilhado em práticas interdisciplinares, no qual os docentes tenham espaço específico de formação e de aprimoramento para a modalidade, com ações pedagógicas referenciadas na interdisciplinaridade, contextualização e diversidade. Incentivar, através de condições adequadas de trabalho, equipes docentes e de gestores mais estáveis, com professores trabalhando em tempo contínuo, no mínimo por turno, em uma mesma escola. O envolvimento dos pais na vida da escola é outro fator da maior relevância. Incentivo a uma agenda com metodologias alternativas de ensino, aproximando a teoria e prática. É preciso estrutura adequada, salas de informática, laboratórios e biblioteca com efetivo funcionamento, enfim, estrutura e incentivo a projetos inovadores. Valorizar os professores é decisivo. Ouvindo-os, dando-lhes condições adequadas. Reajuste e politica salarial, fatores de grande relevância.


Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 03/10/2015
educação - A reforma do Ensino Médio educação - A reforma do Ensino Médio Reviewed by Edison Lins on 06:53 Rating: 5
Tecnologia do Blogger.