EDUCAÇÃO - Desafios, em filmes e na realidade
Dois filmes brasileiros, sucessos de crítica e de público, trazem no enredo situações que possibilitam reflexão sobre aspectos da nossa educação, questão desafiadora no conjunto das nossas mazelas sociais. São os filmes, Central do Brasil, que permite falar do analfabetismo, uma das nossas maiores e crônicas questões educacionais, com sérios impactos sociais, infelizmente ainda acentuando as nossas desigualdades. O outro filme, Que horas ela volta?, tem cenas sobre o acesso à universidade pública em contexto da desigualdade social brasileira. Reflexão que também é oportuna neste momento em que milhões de candidatos prestam o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em busca de acesso ao Ensino Superior, em instituições públicas e particulares. O Enem, nos últimos anos, além do caráter avaliativo do aluno e de qualidade das escolas, também assumiu forte e abrangente papel de instrumento de seleção para o Ensino Superior, inclusive em universidades de ponta, como as instituições públicas paulistas de ensino superior. A Unicamp o faz, através do Programa de Formação Interdisciplinar Superior (Profis), e na USP, onde parte das vagas que a universidade abre anualmente na graduação, será considerado o desempenho dos candidatos no citado exame nacional.
O filme Que horas ela volta? é uma espécie de crônica sobre o cenário de desigualdade entre as classes sociais existentes no Brasil, mais precisamente as relações entre empregados e patrões. O filho dos patrões, candidato de classe média alta tem, aparentemente, todas as oportunidades para obter vaga numa importante universidade, a USP, exatamente na FAU, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, uma das mais concorridas do País. No entanto, quem consegue de fato a vaga é a jovem, emblematicamente vinda do Nordeste, filha da empregada da casa. Durante a cena do filme em que o resultado é divulgado há registros, em muitas sessões, da vibração do público, que chega a vibrar como em torcida diante da vitória do seu time. Afinal, a garota foi, metaforicamente, além do “quartinho dos fundos”, condição que a vida, até então, impunha à sua mãe, conformista. Fosse a nossa sociedade mais igualitária, o fato ocorreria não só na ficção, mas, de forma real e socialmente mais justa e natural.
Ainda assim não deixa de ser momento representativo da luta de muitos jovens, por exemplo, das escolas públicas, que alcançam com esforço e mérito vagas em instituições de excelência e, de certa forma, todos os jovens que, nas mesmas condições superam a barreira da educação básica.
O filme Central do Brasil é de 1998, assistido nos cinemas por mais de 1 milhão de pessoas e já exibido diversas vezes na televisão aberta. Nessas exibições, certamente, alcançando muitos milhões de telespectadores. Nele, a personagem Dora, magnificamente interpretada por Fernanda Montenegro, escreve cartas para analfabetos que tentam manter laços com seus vínculos familiares que ficaram na terra de origem. A personagem exerce um poder arbitrário quando relê o que transcreveu da mensagem falada para a escrita e seleciona aquelas que deve postar, selando destinos de acordo com a sua visão. Os analfabetos podem ser colocados assim na vida. Sem o recurso da leitura e da escrita, seus limites se cristalizam e são colocados em situação de dependências várias e, assim, veem acentuados os desafios na vida.
Que horas ela volta?, ainda em exibição no circuito comercial de cinema, já foi assistido, também, por mais de 1 milhão de pessoas, pelo menos. Possui outras analogias com o filme do final do século 20, além da transversalidade de temas. As duas atrizes têm seus trabalhos amplamente reconhecidos. Foi grande a torcida para que Fernanda Montenegro fosse a primeira atriz brasileira a receber o Oscar. Não foi assim, mas não fez diferença nenhuma. Continuou com o mesmo brilho a carreira imponente, graças ao seu imenso talento. Em relação ao filme atual, o trabalho da atriz Regina Casé também tem sido muito elogiado. Que se confirme então a candidatura ao Oscar. A torcida também será intensa.
Da mesma forma é grande a torcida para que o Brasil supere suas tantas mazelas educacionais. Fragilidades que os dois filmes expõem, enquanto representação de um país que, na educação, sempre está em tentativa de mudança para melhor, sem que esta se evidencie de fato. Na realidade, a ser enfrentada, e na ficção, que denuncia e traz horizontes.
O filme Que horas ela volta? é uma espécie de crônica sobre o cenário de desigualdade entre as classes sociais existentes no Brasil, mais precisamente as relações entre empregados e patrões. O filho dos patrões, candidato de classe média alta tem, aparentemente, todas as oportunidades para obter vaga numa importante universidade, a USP, exatamente na FAU, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, uma das mais concorridas do País. No entanto, quem consegue de fato a vaga é a jovem, emblematicamente vinda do Nordeste, filha da empregada da casa. Durante a cena do filme em que o resultado é divulgado há registros, em muitas sessões, da vibração do público, que chega a vibrar como em torcida diante da vitória do seu time. Afinal, a garota foi, metaforicamente, além do “quartinho dos fundos”, condição que a vida, até então, impunha à sua mãe, conformista. Fosse a nossa sociedade mais igualitária, o fato ocorreria não só na ficção, mas, de forma real e socialmente mais justa e natural.
Ainda assim não deixa de ser momento representativo da luta de muitos jovens, por exemplo, das escolas públicas, que alcançam com esforço e mérito vagas em instituições de excelência e, de certa forma, todos os jovens que, nas mesmas condições superam a barreira da educação básica.
O filme Central do Brasil é de 1998, assistido nos cinemas por mais de 1 milhão de pessoas e já exibido diversas vezes na televisão aberta. Nessas exibições, certamente, alcançando muitos milhões de telespectadores. Nele, a personagem Dora, magnificamente interpretada por Fernanda Montenegro, escreve cartas para analfabetos que tentam manter laços com seus vínculos familiares que ficaram na terra de origem. A personagem exerce um poder arbitrário quando relê o que transcreveu da mensagem falada para a escrita e seleciona aquelas que deve postar, selando destinos de acordo com a sua visão. Os analfabetos podem ser colocados assim na vida. Sem o recurso da leitura e da escrita, seus limites se cristalizam e são colocados em situação de dependências várias e, assim, veem acentuados os desafios na vida.
Que horas ela volta?, ainda em exibição no circuito comercial de cinema, já foi assistido, também, por mais de 1 milhão de pessoas, pelo menos. Possui outras analogias com o filme do final do século 20, além da transversalidade de temas. As duas atrizes têm seus trabalhos amplamente reconhecidos. Foi grande a torcida para que Fernanda Montenegro fosse a primeira atriz brasileira a receber o Oscar. Não foi assim, mas não fez diferença nenhuma. Continuou com o mesmo brilho a carreira imponente, graças ao seu imenso talento. Em relação ao filme atual, o trabalho da atriz Regina Casé também tem sido muito elogiado. Que se confirme então a candidatura ao Oscar. A torcida também será intensa.
Da mesma forma é grande a torcida para que o Brasil supere suas tantas mazelas educacionais. Fragilidades que os dois filmes expõem, enquanto representação de um país que, na educação, sempre está em tentativa de mudança para melhor, sem que esta se evidencie de fato. Na realidade, a ser enfrentada, e na ficção, que denuncia e traz horizontes.
Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 27/10/2015
EDUCAÇÃO - Desafios, em filmes e na realidade
Reviewed by Edison Lins
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