GUILHERME DE ALMEIDA - Um modernista campineiro

“Como de mim há de partir uma alma/ De mim partiu o meu primeiro verso/ Campinas, amorosa amada minha/ Eu deixei de ser eu para ser nós" (Guilherme de Almeida)

Campinas possui fortes referências culturais, construídas ao longo de sua história. Fatos que fazem da cidade um ponto importante na história cultural brasileira. Algumas figuras, aqui nascidas ou que aqui desenvolveram seus talentos, no passado e no presente, pontuam em diversos aspectos da cultura, mais erudito ao popular merecendo destaque, engrandecendo a cidade. Guilherme de Almeida, um dos protagonistas da fase inicial do período modernista na literatura e nas artes brasileiras, nasceu em Campinas, no final do século 19. É ele um dos personagens que evidenciam a condição de berço cultural que Campinas, a mais importante cidade do Interior brasileiro, detém. Chamado de Príncipe dos Poetas Brasileiros, título obtido através de sufrágio, tem expressiva relevância pela qualidade e inovação de sua produção poética. Sua vida e sua obra precisam ser conhecidas pelas novas gerações.

Há em São Paulo, a Casa Museu Guilherme de Almeida. Espaço cultural de grande valia, organizado, e muito bem, exatamente na casa onde o saudoso poeta morou com sua mulher e seu filho. Casa que foi frequentada por muitos dos modernistas brasileiros.

Muito há do que falar sobre o poeta Guilherme de Almeida. Dois aspectos, sobre o poeta, de diversificadas atividades profissionais, são importantes e acentuam seu nobre sentimento pela terra em que nasceu, o nosso estado, a saber: o envolvimento dele com a Semana de Arte Moderna que ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo em fevereiro de 1922 e o seu lado constitucionalista na chamada revolução paulista de 1932.

A Semana é o marco inicial do período modernista. Aconteceu na cidade de São Paulo, mas teve – e ainda tem intensa repercussão pelo País afora. O campineiro Guilherme de Almeida muito contribuiu com o evento que tinha como objetivo tirar a área literária e cultural brasileira da inércia e do viés preponderante ditado por influências de fora e estabelecer condições para criação e valorização de algo brasileiro, indo além da fala padrão, da visão parnasiana e, para isso, quebrando a rigidez de forma e estética nas poesias, e usando o tom coloquial. Exímio nos sonetos, muito hábil na construção de versos, tratou de Poesia Moderna na conferência “Revelação do Brasil pela Poesia Moderna”, em cidades como Fortaleza, Porto Alegre e Recife. Fundou a Klaxon, uma revista mensal de arte moderna que circulou de 15 de maio de 1922 a janeiro de 1923. Revista que foi o maior espaço de textos concernentes ao momento inicial do modernismo. Nela escreveram figuras ilustres como Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Sérgio Buarque de Holanda, Tarsila do Amaral e Graça Aranha. A revista publicava a busca pelo que era então de mais atual, a partir de uma visão de brasilidade, e se pautava pela busca da inovação. Um dos seus grandes propósitos, e conceito do movimento modernista, era sair da visão passadista e viver o presente olhando para o futuro moderno. Outro registro relevante na Revista foi a sua “internacionalidade”, abrindo espaço para representantes de diversos países, com artigos e poemas de autores franceses, italianos e espanhóis. Guilherme de Almeida foi o autor de todas as inovadoras e provocativas capas das nove edições da revista.

Seu legado registra ainda o trabalho com Haicai. Em um texto, publicado em 1937 pelo jornal O Estado de São Paulo, assim abordou tal modelo de poesia: “Emoção concentrada numa síntese fina, poeticamente apresentada em dezessete sons, repartidos por três versos: o primeiro de cinco sílabas, o segundo de sete e o terceiro de cinco. Impressão breve, mas tão extensível, desdobrável”... O poeta, tradutor, jornalista Guilherme de Almeida, o primeiro modernista a ingressar na tradicional Academia Brasileira de Letras, foi também soldado constitucionalista, acreditando que, assim, demonstrava seu civismo e lutava por ideais democráticos. Derrotado esse movimento, foi exilado em Portugal. Enfim, grande figura nascida em Campinas.

Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 16/06/2015
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