CULTURA - MIS e Cine Topázio

Passado mais de um mês do fechamento, no último domingo do mês de novembro, prevalece um enigmático silêncio sobre a aventada reabertura do Cine Topázio. Uma das possibilidades levantadas é que passe a funcionar no espaço do Museu da Imagem e do Som (MIS), no Palácio dos Azulejos, espaço público de Campinas. Há opiniões, entre os que defendem a reabertura do Topázio, contrárias a essa medida. Estou alinhado com quem pensa assim. O MIS deve continuar como um espaço público, acessível, de forma gratuita, a todos. E deveria ampliar não apenas a sua programação cinematográfica, ocupando a lacuna da ausência de cinemas de rua em Campinas, mas, ainda a programação de outras expressões artísticas, como exposições, debates culturais, espetáculos de música e de dança. O Cine Topázio era um dos poucos espaços em Campinas a exibir filmes além dos grandes lançamentos comerciais em série, que por vezes monopolizam as salas de cinema. Embora haja, em Campinas, uma quantidade expressiva de salas de cinema, todas nos grandes centros comerciais, a programação é muito limitada quando comparada, por exemplo, à programação de São Paulo. Defendemos a reabertura do Topázio, sem desconsiderar que é um espaço privado que não deve substituir ou comprometer um espaço cultural público. Há muitas razões que convergem para a reabertura. Alguns filmes relevantes quando chegam a Campinas é com muito atraso.

Vários filmes de arte só foram exibidos em Campinas através do Topázio. Voltando ao momento do fechamento, a melancolia domingueira era visível entre os frequentadores e também entre os funcionários do cinema, naquele domingo de fechamento, antecedido por mobilização de frequentadores e cinéfilos, posicionando-se com a sentida perda e o que ela representa para a cultura campineira. A equipe do Topázio também se diferenciava pelo tratamento atencioso, comentários sobre os filmes, o que não ocorre em nenhuma outra rede. Uma cena também marcante, em meio ao ambiente geral de tristeza, era o desmonte da biblioteca, outro diferencial do cinema, cuidada com zelo pelos funcionários, permitindo aos usuários do cinema uma pausa para leitura enquanto aguardavam o início do filme. O fechamento do Topázio também comprometeu um espaço de leitura. Se o livro interessasse ao cinéfilo, havia a possibilidade de empréstimo. Uma perda para Campinas, para a região onde se localizava e, penso, até para o centro comercial que o abrigava. Aliás, não era raro ver excursões de cidades vizinhas que vinham para Campinas devido a determinado filme.

Campinas perdeu todos os seus cinemas de rua. Já houve dezenas dessas salas. É preciso que a esperada revitalização da área central desta cidade, líder de importante região metropolitana, esteja associada a investimentos na área cultural. Não há porque trazer o Topázio para o espaço do MIS. Há prédios, públicos ou não, como, por exemplo, o espaço onde funcionou o Cine Vitória, há tempos sem uso. Há ainda espaços como o Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA), a Academia Campinense de Letras, dentre outros, que precisam participar dos debates e das articulações para a revitalização. Voltando ao fechamento do Topázio, não é a primeira vez que ocorre perda nesse campo em nossa cidade. Duas salas do mesmo conceito, pertencentes à mesma rede, que funcionavam em um espaço comercial no bairro Guanabara, foram fechadas em 2007. Foi uma boa notícia o retorno, com as quatro salas, ora fechadas.

Nas redes sociais houve um movimento, inicialmente pelo não fechamento. Assim, algumas dúvidas ressaltaram, entre os cinéfilos, pelas redes: precisava mesmo fechar tão abruptamente? Não poderia aguardar negociação de outro espaço? Não seria possível manter o funcionamento de algumas das salas? Afinal, a programação do cinema, ora fechado, continha filmes de vários países, garantindo diversidade. Atendia assim um pressuposto baseado na convicção pautada pela Unesco, Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, sobre a necessidade de convivência, de forma mais ampla, com a diversidade das culturas do mundo, inscrita na sua Constituição de 1945. Espaços como o Cine Topázio, ou antes o Jaraguá e o Paradiso, perdas anteriores, precisam ser resgatadas. Em espaço próprio. Sem ocupar espaço público onde já há eventos culturais. Reabrir o Topázio, manter e ampliar o MIS, são movimentos complementares e não substitutivos. E a revitalização do Centro de Campinas precisa inserir esse debate.


Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 17/01/2015
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