Entre o Natal e o Ano Novo

O ano de 2014, marcado pela realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil e pelas eleições presidenciais mais disputadas dos últimos tempos, chega ao final.

Há um tempo, que agora estamos vivenciando, propício às reflexões. Entre o Natal, com as efêmeras inspirações e atos de solidariedade, das celebrações nos diversos ambientes e, celebrações ainda mais especiais nas reuniões, encontros e reencontros familiares. Em meio a isso um novo ano se aproxima e isso nos leva a pensar, ou deveria. Uma espécie de hiato, neste interregno, estabelece-se e nos permite reflexões importantes. Há, neste intervalo, o resgate da esperança em dias melhores, mesmo que ela se desvaneça já nos primeiros dias do novo ano ou no decorrer dele. Esperança que também se concretiza em gestos de solidariedade que decorrem da associação com o Natal e não deveriam ser atos circunscritos apenas ao período em questão.

As imagens dos diversos grupos solidários atuando, por exemplo, na área central de Campinas chamam a atenção. E mesmo que algumas dessas ações ocorram ao longo do ano, em tempos de Natal elas se ampliam em quantidade, nos seus formatos e abrangência. Isso se espalha por outras partes da nossa cidade e, certamente, em muitas outras cidades do país. Grupos diversos, movidos por expressões de religiosidade ou por solidariedade, que deve ser inerente ao ser humano, mesmo sem esse vínculo, distribuindo alimentos e presentes para moradores de rua ou pessoas em situações de fragilidade social, ressaltam pelo menos dois aspectos. Uma é a constatação in loco das falácias nas afirmações oficiais de que a miséria diminuiu. As filas à espera de um donativo evidenciam quão presente ainda é a miserabilidade, mesmo em uma cidade de forte pujança e desenvolvimento, como é Campinas, o que se configura como paradoxo nas cenas que se repetem ao longo do ano. Calculemos então como isso se apresenta nos longínquos rincões deste imenso e maltratado país.

A partir desses elementos somos levados também a avaliar os desafios da nossa sociedade diante do ano novo que se apresenta e o nosso papel cidadão diante deles. Reflexão similar também ocorreu no limiar de anos anteriores. Ainda assim, a pauta de desafios sociais permanece com pouca ou mesmo nenhuma variação. E isso, na verdade, na contramão do desânimo que por vezes tenta nos assolar, deve nos encorajar na perspectiva do novo ano. Afinal, abrem-se novas tentativas e oportunidades. Oportunidade para que a gestão pública municipal, em parcerias com outras esferas governamentais e com a sociedade possa implantar um efetivo programa de resgate da cidadania para os moradores de rua, com assistência e perspectiva de encaminhamentos educacionais e profissionalizantes para que tenham inclusão na sociedade. Dinâmica válida e necessária para esse e outros temas que desafiam a cidade, sede de uma importante região metropolitana.

Em Campinas há o desafio, há tempos pautado, da revitalização da área central. A atual gestão municipal retomou o assunto e indicou ações nesse sentido, ponto positivo. Mas é preciso que a sociedade seja ouvida através das suas instâncias organizadas e participem efetivamente do processo, de grande interesse para a cidade.

Há muitas outras questões desafiadoras que envolvem todas as esferas da gestão pública, a saber segurança, saúde, educação, emprego, inflação, mobilidade urbana e, particularmente em nosso Estado, a crise hídrica que ganhou contornos de riscos ao longo do ano que se encerra e reveste-se de grande preocupação para o ano que estamos recebendo. A pauta é intensa e complexa. Requer, diante do novo ano, uma agenda objetiva para que no mesmo período, daqui a um ano, possamos reconhecer efetivos avanços. E, ao final de cada ano, quando há a constatação de que muitas das mudanças ensejadas na passagem do ano anterior, não se concretizaram na medida esperada, há que renovar a esperança. Uma esperança ativa. Que não deve ficar apenas nas reflexões típicas dos períodos entre o Natal e o novo ano. Que sejam ações práticas, individuais e coletivas. Dos governos e da sociedade.

Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 31/12/2014
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