CULTURA - O fechamento do Topázio



Campinas precisa impedir que mais um ataque ao acesso à cultura de qualidade, nesta cidade, que é sede de uma importante região metropolitana, ocorra. Trata-se do Cine Topázio. É preciso que haja intensa mobilização de parte dos que militam na área cultural, de todos os que usufruem da magnífica programação cinematográfica do Topázio. E que a Secretaria de Cultura da cidade se faça também presente, na mobilização e em gestões junto aos que pretendem, em não havendo movimento em contrário, cometer tamanho desatino. Não dá para aceitar passivamente que se decida pelo fechamento de um espaço de cinema de qualidade, como o Cine Topázio. O espaço com suas quatro salas, localizada no Shopping Prado, tem sido o único espaço de resistência em Campinas, para exibição mais ampla de cinema de qualidade. Único cinema da cidade que resiste a exibir apenas os grandes sucessos comerciais. Exibe filmes que não são exibidos em nenhuma das outras dezenas de salas de cinema de Campinas. É um absurdo que se invista dessa forma contra um bem cultural da cidade, com que pretexto for, especialmente argumentos mera e aparentemente economicistas, apresentados de forma subjetiva, como parece às centenas de campineiros que estão se mobilizando para impedir fato, lamentável sob todos os aspectos.

Não há espaço de cinema comercial em Campinas que preze tanto a cultura da cidade no campo da imagem e do som. Recentemente estive participando do lançamento de uma série filmada, denominada Joias da Princesa, que focava a trajetória da atriz Regina Duarte, desde os tempos doTeatro Estudantil de Campinas (TEC), decisivo para esta que é a atriz mais popular da televisão brasileira. O curta foi ali lançado com a presença da atriz e de muita gente ligada à cultura da cidade. Identidade. O referido filmedocumentário, empreendimento da atriz e diretora Tereza Aguiar, indubitavelmente também uma joia desta princesa. Fico pensando: em que outro espaço de cinema desta cidade, haveria espaço para esse tipo de lançamento? Da mesma forma, em que espaço haveria, sem o Topázio, espaço para o Festival Varilux de cinema francês, ou para filmes de vários países do mundo, sempre com qualidade, por vezes instigante, reflexiva? Ou, em que espaço adolescentes do último ano do Ensino Médio poderiam assistir à produção O Capital, provocando reflexões sobre a complexa sociedade contemporânea, nos pressupostos dos interesses econômicos?

Perdemos um imponente teatro nos anos 1960. Os cinemas de rua, de áureos tempos da boa cultura ou da memória afetiva foram se fechando um a um, inexoravelmente, sem reação organizada. A cidade perdeu um cinema de resistência, o Paradiso. Sob o silêncio das autoridades de cultura da cidade, à época. Depois houve o fechamento da primeira versão do Topázio, no antigo shopping Jaraguá Brasil, onde funcionaram duas salas, sempre com programação qualitativamente diferenciada. O espaço está há anos abandonado, em área nobre do Bairro Guanabara, sob a sanha sabe-se lá de quais interesses. A cidade, nesse item de cultura, foi muito prejudicada. Imperou novamente o silêncio das autoridades de cultura de Campinas. Assim, foi bastante saudada a volta do Topázio com quatro salas. Em tempos de ação de revitalização cultural da cidade, não se pode abrir mão do espaço de cinema representado pelo Topázio. Que haja reflexão e mobilização. Reproduzo uma expressão: “Ao(s) dono(s) do cinema: dialogue(m) conosco...” em carta aos implicados, por Fábio Mariano, circulando em redes sociais. Nele o autor do manifesto conclama os proprietários, a sociedade, que já se manifesta com força em redes sociais e no espaço do leitor, do Correio Popular, e autoridades de cultura (http://fabiocaze.blogspot.com.br). Vamos juntos! Não ao fechamento do Cine Topázio.

Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 16/11/2014
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