A saudável disputa na ACL



No ano em que a Academia Campinense de Letras (ACL) completa 58 anos, a boa surpresa é a saudável disputa para quatro vagas existentes no rol dos acadêmicos. Em nenhum momento anterior da rica história da academia houve tanto interesse. O qualificado conjunto que se disponibiliza para fazer parte do quadro de acadêmicos garante envolvimento e destinação de talento e da capacidade, o que certamente fortalecerá a academia. E, ainda considerando a existência da ACL, oportunidade ímpar para reflexões. Campinas, cidade historicamente reconhecida como importante palco e celeiro cultural tem na ACL uma importante referência que fortalece tal condição. Seu imponente prédio, localizado na área central da cidade, cuja configuração urbana próxima faz do prédio da Academia uma espécie de farol de bela estética, que remete às academias gregas, cuja arquitetura, no caso, produz diferenciado contraste naquele cenário da urbe. A entidade, visando atuar no campo artístico-cultural, foi criada por ilustres habitantes de Campinas em meados da década de 1950, tempo marcado por um frenético desenvolvimento que se desenhou após a Segunda Guerra Mundial.

Surgiu a nossa academia com a finalidade de promoção de eventos artísticos e literatos, em 1956, quando o linguista Francisco Ribeiro Sampaio, então secretário municipal de Educação e Cultura e também titular da cadeira de Filologia Portuguesa na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, fundou a ACL, inspirada na Academia Brasileira de Letras. O objetivo inicial era o de reunir os literatos da cidade, pujante centro de cultura. E os resultados alcançaram bem mais que os ensejos iniciais. No momento da fundação foram escolhidos 16 nomes para formar o corpo acadêmico dos fundadores. E esses elegeram ainda outros 24 intelectuais para compor o primeiro quadro de imortais. Para alcançar o relevante e abrangente objetivo de valorizar a língua portuguesa, a literatura e fortalecer a cultura do município e da região, a ACL enfrentou os desafios inerentes a todos os projetos de arrojo e ousadia. Ter uma sede própria foi um exercício de persistência. As sessões ordinárias iniciais foram realizadas na casa de um dos acadêmicos. As sessões solenes eram realizadas nos salões do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas, outro importante referencial de cultura da nossa cidade e no prédio do Jóquei Clube Campineiro, cujo prédio, também belo e imponente, localiza-se em área ainda mais central. Em 1963 houve negociação com a Prefeitura, que doou o terreno e, assim a ACL instalou-se no Edifício Barão do Rio Branco, no centro da cidade. Diante do expressivo crescimento, com diversificadas atividades culturais, o primeiro espaço já não comportava a demanda. Em 1976, com o apoio da Prefeitura, gestão do prefeito municipal Lauro Péricles e a importante supervisão de Lix da Cunha, ergue-se a atual sede da Academia Campinense de Letras que, aos 58 anos, merece a atenção das autoridades e de toda a população desta que é a mais importante cidade do interior brasileiro.

No campo das reflexões, há o portentoso desafio de revitalizar a área central, tão deteriorada em muitas partes, questão sempre pautada e reiterada que passou a ser parte efetiva da atual gestão da Prefeitura. Ter na ACL inspiração é também bastante pertinente. Seus fundadores foram visionários e se posicionaram vendo na cultura um importante aspecto da vida na área central. A ACL pode e deve ser espaço importante no processo da tão almejada e necessária revitalização. A academia tem promovido, ao longo de sua história, eventos culturais memoráveis. Contar com ela, de forma protagonista, no movimento pela revitalização do Centro de Campinas mostra-se de grande viabilidade. Que isso possa ter investidura na pauta daqueles que se candidataram para fazer parte do quadro de imortais da ACL. Que os campineiros, de todas as idades, possam olhar com mais frequência para o belo prédio, próximo ao “antigo Eldorado”. Que continue avançando a interação. Que seja um olhar que vá além do contemplativo, divulgando e participando efetivamente das atividades ali realizadas. A cultura campineira, historicamente pujante, tem na ACL, uma sólida referência e fonte de forte dose de autoestima para consolidar e ampliar o seu sentido, tanto o histórico, como o contemporâneo, o de viabilizar a criatividade, função precípua da cultura como um bem humano.

Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 10/09/2014
A saudável disputa na ACL A saudável disputa na ACL Reviewed by Edison Lins on 10:29 Rating: 5
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