MARIA SYLVIA FERRAZ E SILVA - Uma professora das palavras

O Correio Popular faz, de fato, parte das nossas vidas. Suas páginas trazem informações que nos atualizam e nos fazem refletir sobre tantas coisas. Está nas páginas do Correio que Campinas perdeu uma professora ilustre, Maria Sylvia Ferraz e Silva. A melhor maneira, talvez a única, de homenagear alguém, é reconhecer a contribuição concretizada em vida e que se torna legado único ou raro. Nome bastante reverenciado pela atriz Regina Duarte, como a mulher que lhe ensinou “o valor das palavras”. Tais ensinos se deram no privilégio que a atriz teve ao ter aulas de declamação e, assim, perceber o valor das palavras, que se expressa às vezes com muito força e ênfase e, em outras, sutilmente delicada. Destaco que nas muitas oportunidades que a atriz contou essa rica e emocionante passagem do seu desenvolvimento educacional e humano e, quem sabe, inspirando-a para a carreira que se seguiu, vê-se o nobre gesto do reconhecimento e da gratidão. Que tantas vezes faz muita falta.

A professora Maria Sylvia foi uma professora de palavras, mostrando como as mesmas podem ser valorizadas na expressão verbal. Num país em que a boa leitura nem sempre é valorizada, é de pensar quão privilegiados foram os que conviveram com ela, seus alunos. Num tempo em que as palavras são negativamente manipuladas, usadas em formas distorcidas, em detrimento do seu real sentido e finalidade, bom saber que, nesta grande cidade, aliás, aqui nascida, houve quem se preocupou em evidenciar o bom valor das palavras. Quando assim usadas nos trazem vida, motivação, emoção, ânimo. Valores. E, Rogério Verzignasse, repórter do Correio foi muito feliz numa matéria sobre a professora Maria Silvia. Diga-se que é assim, com reportagens e notícias diferenciadas, que este grande jornal faz mesmo parte das nossas vidas. Escreveu Rogério: “Quando Maria Sylvia termina a apresentação improvisada, o visitante sente um tremendo nó na garganta. Sente exatamente a mesma emoção que sentia o público que, por exemplo, tomava as poltronas do Teatro Municipal ou do Cultura Artística, em Campinas, lá pelas décadas de 50 e 60”. O visitante era o repórter que foi alcançado, certamente, pelo valor das palavras, expresso na arte de uma professora singular. E referenciou-se a um tempo que “para declamar e tocar, os alunos também invadiam escolas, clubes de serviço, centros culturais, jantares, praças.” A matéria jornalística é de fevereiro de 2012, quando teve o privilégio imensurável de ouvir Maria Sylvia declamando Rua das Rimas, obra-prima de Guilherme de Almeida, o príncipe dos poetas paulistas, nascido em Campinas, no ano de 1890.

Ela nasceu em Campinas, cidade de forte tradição cultural e que em si acolhe homens e mulheres de várias partes do País ou fora dele. E a nossa cultura deveria ser sempre o encontro diferencial para quem aqui chega. Cartão de visita. Começou a declamar ainda na tenra idade. Uma tia descobriu o talento com a expressão das palavras. Outros artistas como Regina Duarte, aprenderem com ela a interpretar as palavras em versos. Quem a ouviu diz sempre do seu dom de emocionar com as palavras. Que isso mereça o reconhecimento. Que Campinas dê seu nome a um local público, preferencialmente a uma escola pública. Que seu legado alcance sempre sua família, filhos e netos. E a todos nós, valorizando as palavras. Todas polissêmicas. E que nesta abrangência seu valor esteja nas e para as coisas boas da realidade e dos sonhos.

Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 30/08/2014