O desafio do analfabetismo

O Brasil carrega ainda o peso de ser o oitavo País do mundo em número absoluto de analfabetos. Um tema que, portanto, merece a máxima atenção da nossa sociedade. Questão que precisa nos incomodar à exaustão. Nesse importante campo de base para a educação e todas as outras áreas da existência humana, o Brasil ficará aquém das metas assumidas internacionalmente em 2.000. Metas, aliás, que nem eram as de erradicação. O analfabetismo compromete maior avanço no quadro do nosso desenvolvimento educacional e humano. Impede que milhões de pessoas, no Brasil e no mundo, sejam, de forma plena, cidadãos autônomos, um direito inerente à condição humana digna. Sem ler, escrever e se expressarem de forma mais elaborada ficam, esses homens e mulheres, sem acesso para informações elementares, o que compromete fortemente o exercício pleno dos seus direitos, de algumas atividades.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), informou recentemente, após a divulgação de um relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) sobre educação no mundo, que o Brasil não deverá alcançar a meta, assinada em 2.000 por 164 países, para melhorar em 50% os níveis de alfabetização de adultos até 2015.

Lamentável que não se alcance um objetivo tão essencial. Mas, é o caso de se jogar a toalha? Claro que não.

Reconheça-se, então, como muito positiva a ação desenvolvida pela Secretaria Municipal de Educação de Campinas, a mais importante cidade do interior brasileiro, na tentativa de, a partir de um mapeamento quantitativo, combater o analfabetismo. O desafio proposto foi o de matricular 1,7 mil alunos, de faixas etárias acima de 15 anos, alcançando 30 novos estudantes diariamente, em um período de dois meses. Esse é o objetivo da Semana de Luta Contra o Analfabetismo. Que a sociedade campineira possa responder ao chamado proposto, fazendo a sua parte. De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), Campinas tem aproximada mente 28 mil pessoas, acima de 15 anos, não alfabetizadas. Número alto para uma cidade do porte econômico e com as tradições educacionais e culturais de Campinas. Para reverter tal quadro anunciou-se uma força tarefa para sensibilizar a sociedade civil, associações de moradores, empresários, construtoras, entidades religiosas, sindicatos entre outras entidades representativas com o objetivo de fazer uma busca efetiva das pessoas ainda não alfabetizadas e direcioná-las para o sistema municipal de EJA — Educação de Jovens e Adultos. Correto e necessário envolver a sociedade nessa luta de todos.

Mas, o desafio de erradicar o analfabetismo tem contornos ainda mais complexos quando dimensionados nacionalmente. De acordo com a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo IBGE divulgada em setembro de 2013, a taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais no País foi estimada em 8,7%, o que corresponde a 13,2 milhões de analfabetos, número reconhecido pela Unesco. O analfabetismo resulta de um ensino básico universalizado precariamente, metodologia de ensino desconectada da realidade, altos índices de evasão escolar e falta de inserir de forma planejada uma política de cursos noturnos para adultos, ainda que, no caso de Campinas, pela rede municipal, uma referência positiva. O projeto aqui já mencionado corrobora isso. Cabe lembrar que o método Paulo Freire de alfabetização de adultos, aplicado em países, hoje, com situação bem melhor que a nossa em termos de alfabetização. O reconhecido método, em nosso País não vai muito além, infelizmente, de referência teórica, com qualificadas exceções, algo difícil de entender. Ainda segundo o estudo da organização, há em todo o mundo 774 milhões de adultos analfabetos, sendo que 72% deles estão em dez países – como Brasil, Índia, China e Paquistão. O nosso País precisa sair dessa relação que absolutamente não nos dignifica como nação desenvolvida e justa, a que tanto almejamos. E que o analfabetismo, entre outras graves questões, nos impede de ser.

Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 28/02/2014
O desafio do analfabetismo O desafio do analfabetismo Reviewed by Edison Lins on 12:04 Rating: 5
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