Livros inspiradores
Compartilhar sobre um livro, lido de forma compulsória como atividade escolar, ou aquele ganho como presente, e que de várias formas provocaram em quem leu um intenso impacto, pode ser fator motivador e de incentivo para que outros façam as mesmas leituras. E isso pode contribuir para que o saudável hábito da leitura se propague. O brasileiro, em média, lê muito pouco. Até mesmo quando comparado a países vizinhos em condições econômicas e sociais ainda mais desafiadoras que as nossas. Segundo os dados disponíveis, o total de livros lidos pelos brasileiros durante um ano ainda é reduzido, não chega a 2 livros, enquanto em países latino-americanos como o Chile e a Argentina, por exemplo, líderes nesse quesito na região, com 5,4 e 4,6 livros lidos por habitante/ano, respectivamente. Os dados são do Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e no Caribe (Cerlalc), vinculado à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
O índice brasileiro de leitura não condiz com a extensão territorial e com a condição econômica do País, mesmo sabendo das tantas mazelas e desafios. Nas escolas, até de forma compulsória, os professores tentam incentivar a leitura, tarefa complexa, uma vez que falta, de forma mais sistemática, o incentivo a esse relevante hábito em nossa cultura, situação que se agrava diante do formato em que vivemos nesses corridos tempos atuais. Uma pena, pois há tantos livros inspiradores e que fazem muito bem à nossa alma, nos permite reflexões interessantes e até nos reconhecermos naquilo que lemos, guardadas as devidas dimensões e diferenças. Não faltam exemplos desses livros em nossa literatura mais tradicional, em suas diversas escolas literárias. Há uma obra imprescindível do escritor Lima Barreto, perdida no chamado período pré-modernista da nossa literatura: Triste fim de Policarpo Quaresma. O personagem que dá titulo à obra é um idealista apaixonado pelo Brasil. Mas, vê suas ideias e o seu patriotismo radical ser motivo de chacota e de isolamento. Ao mesmo tempo políticos corruptos e personagens vazios formam, naquele cenário de início do século passado, a chamada elite do País de então. De então?
E há livros, com histórias vividas a partir da segunda metade do mesmo século, chegando aos tempos atuais e que trazem exemplos de dignidade e de valores absolutamente necessários nesses tempos difíceis, de referências efêmeras e consumistas. É o caso do livro Douglas, que traz a trajetória de um homem do nosso tempo que, profissionalmente, na luta que é viver, como forma de subsistência sua e da família, foi engraxate, boia-fria, marceneiro, desenhista de cartazes, açougueiro, corretor de imóveis, caminhoneiro, garçom. Hoje é alto executivo de finanças de uma das grandes empresas do Brasil. Douglas Duran é referência para jovens que iniciam suas carreiras profissionais. Sua orientação, ou o coaching, termo comumente usado nos ambientes corporativos, baseia-se na realidade de sua trajetória, evidenciando que o mais importante é ter garra, querer vencer pelo trabalho e, assim, precisa estar atento às oportunidades que a vida nos proporciona. O livro evidencia ainda, para os pais ou tutores, que o sucesso profissional dos jovens depende decisivamente da educação, um processo amplo que se dá dentro e fora da escola, na vivência familiar e aqui os exemplos práticos, dados em casa, são determinantes. E temas perenes, mas fortemente pautados nesses tempos, como adoção, alcoolismo e paternidade, digamos, tardia, são tratados pelo autor.
Enfim, livros inspiradores, leituras muito interessantes. Para que nunca percamos a visão crítica em relação à sociedade. E também para que nunca percamos a esperança de vencer pelo trabalho. Ainda que os ditames fortemente impregnados de alguns valores atuais pareçam indicar o contrário. A leitura de bons livros nos traz conhecimento, identificação e esperança. Que possamos avançar cada vez mais nesse hábito que precisa ser cada vez mais universalizado.
Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 31/01/2014
Livros inspiradores
Reviewed by Edison Lins
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