O VELHO ANO NOVO

A antítese provocada pelo paradoxo do velho e do novo se faz pertinente neste, ainda, início de 2014, ano de Copa do Mundo, no caso muito especial, realizada no país do futebol. E eleições nacionais, para Presidência da República, governos estaduais, Câmara federal e assembleias legislativas. Uma forma de iniciar o novo ano é olhar para o que passou. E, assim, transitar entre o pessimismo e o otimismo. No início de 2013, a tragédia de Santa Maria, com 242 mortes e 116 feridos, na maioria jovens, comoveu o País. A dolorida repercussão provocou ações imediatistas dos gestores, em muitas cidades, com revisões dos alvarás para espaços de eventos para grandes públicos. Menos de um ano depois, já quase não se fala mais no assunto. As revisões surtiram efetivo aprimoramento nos espaços fechados? Melhor não pagar para ver. Há outros fatos, entre eles os estragos que as chuvas, no Verão, provocam.

O ritual é sempre igual. Diante das evidências da falta de investimento pleno, descuido evidente e ausência de obras estruturais e ações preventivas e planejadas, autoridades sobrevoam as áreas atingidas com as mesmas patéticas e lamentáveis promessas de providências, que parecem nunca sair das promessas. No final de 2013, os estados mais atingidos, com dezenas de mortes e milhares de desabrigados, Espirito Santo e Minas Gerais. O fatídico ritual lamentavelmente prossegue com;o mesmo roteiro de anos anteriores.

O mesmo vale para a seca, severo fator climático que, de ciclo em ciclo é registrado em muitos e bons romances da nossa literatura. O ciclo atual é o pior em 50 anos. Enfim, no Brasil, fatores climáticos desnudam e acentuam as desigualdades sociais.

Outros fatores contribuem para que as dificuldades e injustiças se perpetuem: juros altos, picos de inflação, carga tributária pesada, questões que penalizam fortemente os brasileiros. Os desafios por uma educação melhor são imensos e um tema renovado a cada pauta de novo ano. Enfim, não é pequena a lista dos desafios para esta grande nação e seu povo. Não por acaso uma forte e inédita onda de protestos, motivados pela indignação, sobretudo de jovens, iniciando por um item desafiador, o da mobilidade urbana e seus custos para os usuários, sacudiu o País de Norte a Sul no ano passado. O movimento, de grande dimensão e impacto, foi expressão clara de que o País teria saído da letargia. Então, que de forma pacífica, não volte a dormir.

O ano que se inicia tem dois fortes movimentos em sua agenda: a Copa do Mundo e as eleições chamadas majoritárias. Em 2014 teremos aqui a vigésima edição do maior torneio mundial, de um esporte que alcança bilhões de pessoas pelo mundo afora, a Copa, iniciada no Uruguai em 1930. A edição realizada no Brasil em 1950 deixou triste memória para os brasileiros. A seleção daquela copa foi derrotada na final. Há críticas e questionamentos: afinal um país, com tantos desafios sociais, na saúde, educação, mobilidade urbana, entre tantos outros, teria mesmo condições de arcar com os imensos gastos para evento de tal dimensão? Ainda assim a realização da copa no Brasil é irreversível, não sem previsões de problemas.

Outro evento, em 2014, este ainda mais relevante, com efeitos por pelo menos quatro anos: as eleições majoritárias. Que do processo democrático resultem novas posturas, atitudes e ideias. Novos rumos para o país com o qual diferentes gerações sonham e por ele trabalham. Que os eleitores brasileiros estejam atentos. Que exercite crítica e seletivamente o direito de votar, participando dos debates, examinando minuciosamente as propostas sem dissociá-las das atitudes práticas dos candidatos. Atenção que precisa ser acentuada, mesmo diante do imponente evento da Copa, que deverá concentrar, antes das importantes eleições, a atenção da população e dos meios de comunicação. Que o Brasil, uma vez mais, possa ser campeão no futebol. E que a eventual vitória desejada no contagiante futebol não seja uma panaceia a ocultar dos cidadãos brasileiros a atenção sobre os importantes desafios de sempre, que têm nas eleições a oportunidade para avanços. E que esses venham de fato neste velho ano novo.

Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 16/01/2014
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