Ensino Médio e desenvolvimento

Está no Ensino Médio, um dos grandes, talvez o maior desafio da educação básica brasileira. Etapa final de um ciclo educacional, emblemática das fragilidades do nosso sistema educacional. Situação que instiga determinada busca de soluções, no esforço de construção de um país melhor. Tal constatação não é nova. O tema está de novo em pauta, devido aos recentes resultados do IDHM, Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios brasileiros. Índice que resulta de uma soma de questões, entre essas, e fortemente, indicadores educacionais, nos percentuais de matrícula escolar nas diversas faixas etárias e etapas escolares. Outros indicadores são: expectativa de vida ao nascer, longevidade e renda. Considerando todos esses fatores, a posição dos municípios brasileiros, nas duas últimas décadas, melhorou e, no conjunto, saltou da avaliação de muito baixa, em 1991, para alta, em 2011. Se de um lado o índice, de responsabilidade do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Fundação João Pinheiro, revela importante avanço do Brasil nos últimos 20 anos, de outro aponta que Educação é, paradoxalmente, o indicador que registrou maior avanço, embora continue sendo o principal desafio do País no percurso para o desenvolvimento.

Dentre os itens considerados para se chegar ao IDHM, a educação é aquele com pior avaliação. Quase 30% das cidades brasileiras têm nota inferior a 0,500 (“muito baixo”) em educação. Apenas cinco municípios apresentam um índice superior a 0,799 (“muito alto”). O levantamento evidencia ainda que um dos principais gargalos está no Ensino Médio. Apenas 41% dos adultos entre 18 e 20 anos concluíram essa etapa nos estudos. Há vinte anos essa porcentagem era ainda mais baixa, situando-se então em 13%. A porcentagem de jovens de 18 a 20 anos com Ensino Médio completo, embora tenha crescido, registra que a maioria dessa faixa etária, no País, ainda não possui graduação média. Fica então evidenciado,no aspecto quantitativo, que ampliar o acesso e diminuir a altíssima evasão escolar no Ensino Médio são desafios de muita relevância e que devem sempre pautar o planejamento e a análise na gestão educacional brasileira.

Considere-se ainda que a emenda constitucional 59, aprovada em setembro de 2009, determina a obrigatoriedade da frequência escolar dos 4 aos 17 anos, incluindo portanto faixa etária de Ensino Médio, que deverá, portanto, de acordo com o que foi aprovado, estar com acesso universalizado a partir de 2016. Que medidas pedagógicas e estratégicas estão sendo adotadas para cumprir esta lei? E que fatores levam o jovem a abandonar o Ensino Médio? Para muitos deles, é o fato de iniciarem a vida profissional, visando a manutenção própria ou para composição da renda familiar. Inevitável defender a manutenção, ampliação e qualificação do Ensino Médio noturno, para esses jovens e para aqueles, não tão jovens, que o deixaram de concluir. Em sentido inverso ao que o IDHM aponta, isto é, para expansão da oferta do Ensino Médio, em muitas cidades, salas de aula noturnas, nas escolas públicas são fechadas, sob o argumento de falta de demanda, conclusão de critério meramente economicista e dissociada de uma visão da importância de dar acesso à educação e de planejamento estratégico. Sem espaço e mecanismos para participação da comunidade adjacente, além de medidas que contenham a diminuição da oferta, o fator qualidade também desafia. O currículo, fragmentado e muitas vezes dissociado da realidade, contribui para o desinteresse dos alunos.

Organizar ações multidisciplinares é fator que pode contribuir na busca da motivação. Incentivar professores para atuação mais específica no Ensino Médio é também uma questão preponderante e pouco pautada. Enfim, a educação básica brasileira, em especial na sua etapa final, mesmo com avanços, continua sendo fator impeditivo do desenvolvimento mais amplo do país. E o Ensino Médio, etapa conclusiva, requer atenção adicional. Para termos avanço maior nos índices de desenvolvimento humano do Brasil.

Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 15/08/2013
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