Educação - Sair do penúltimo lugar

Com frequência são divulgados resultados comparativos, nacionais e internacionais, que sempre colocam a educação básica brasileira muito mal colocada no desempenho dos alunos em diversos testes. Recente ranking de verificação de qualidade da educação coloca Brasil em penúltimo lugar, ou seja, num índice global que mostra habilidades cognitivas e realizações educacionais, o Brasil ficou em 39º lugar entre os 40 países analisados. E para os que atuam no ambiente educacional, fica sempre o clima de reflexões e análises.

É este um momento oportuno, o de fechamento do ano letivo, para avaliar os resultados, seus significados e o que fazer para que no próximo ano letivo, se ampliem os esforços para superar uma situação de grande incômodo. E os maus resultados são sempre mais evidenciados em relação à educação pública.

Surge então uma pergunta daquelas que não querem calar sem respostas objetivas: como pode um País que alcançou a qualificada 6ª posição entre as maiores economias do planeta ostentar índices educacionais tão constrangedores? As respostas, oferecidas por especialistas da área resumem reiteradamente, no momento da divulgação dos resultados, aquilo que na ótica deles seriam os principais entraves ao avanço educacional brasileiro. No entanto, os motivos vistos isoladamente produzem análises difusas e superficiais e soluções parciais e ineficientes, pois os problemas apontados se repetem posteriormente nos sucessivos resultados.

É preciso deixar claro e afirmativo que não faltam profissionais capacitados, tanto no conjunto de docentes e de gestão na rede pública, e aqui me refiro mais diretamente à rede estadual de São Paulo, quanto de profissionais de outras redes, municipais e particulares, que se relacionam. E, também não faltam alunos com imenso potencial de aprendizado e de desenvolvimento educacional e profissional. São dois aspectos relevantes a se considerar.

É preciso então responder de forma efetiva e integrada aos gargalos que de fato impedem o superar dos indicadores negativos. O investimento em educação é um ponto de partida inevitável. Ainda investimos menos do que países como o Chile, a Argentina e o México, que possuem dimensões econômicas menores que a do Brasil.

Uma comparação internacional, feita com base em 2008, mostra que, em uma lista de 34 países, o Brasil só aplicou mais dinheiro por aluno de qualquer nível de ensino do que a China. Há um debate em curso para quanto deve se elevar o gasto nacional em educação, atualmente em 5,1% do PIB, sendo que o Plano Nacional de Educação prevê um crescimento para até 10%. Outro fator é superar a baixa participação dos pais e da comunidade nas questões educacionais. É esse um dos elementos apontados para o mau desempenho internacional, o pouco envolvimento de quem está do lado de fora dos muros escolares.

Pesquisa no contexto do Educar Para Crescer, realizada pelo Ibope, indica que 70% não sabem o que o prefeito está fazendo para melhorar a qualidade do ensino e, surpreendentemente, apenas 1% dos eleitores considera as propostas de educação determinantes na hora do voto.

Quebrar a indiferença dos pais e da comunidade quanto aos destinos das escolas do bairro, nas quais seus filhos ou parentes estudam, é algo a ser buscado com ênfase estratégica.

Outra questão de suma importância, na avaliação de especialistas, é que o Brasil precisa revisar a formação dos professores, agregando mais prática à teoria, ampliando o acesso dos educadores aos cursos superiores de licenciatura e também ampliar o acesso aos programas de formação continuada que pautem o estímulo à renovação das práticas de ensino a fim de torná-lo interativo e adequado ao ambiente digital do século 21.

Mas é preciso urgentemente melhorar as condições salariais e consequentemente de vida dos professores e especialistas para manter e atrair profissionais qualificados. É preciso elevar a remuneração dos educadores em todos os níveis. A média salarial do professor nos países da OCDE — organização criada em 1961 para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, na qual 30 países se reúnem para discussão de políticas econômica e social, fica ao redor de US$ 30 mil anuais, cerca de três vezes mais do que o piso brasileiro em dólar, pois no Brasil, um professor que receba o piso nacional, acumula ao longo de um ano, incluindo o 13º salário, o equivalente a cerca de US$ 9,3 mil. Certamente há outras ações que devem ser praticadas de forma concomitante para sair de um desonroso penúltimo lugar. Para que não sejamos o último.


Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 22/12/2012
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