EDUCAÇÃO - Capital humano desperdiçado

“A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida.” John Dewey A baixa média dos anos de permanência na escola é um dos fatores determinantes para a estagnação do Brasil no ranking do IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, divulgado recentemente e que mantém nosso País colocado em 85º, numa lista de 187 países. Uma barreira que precisa e pode ser superada.

E ao observar os significativos resultados de alunos da escola pública que ingressam no Ensino Superior, especialmente nos casos de ingresso em universidades públicas de qualidade, cujos vestibulares são concorridíssimos, tems-e a dimensão do potencial dos nossos alunos, pelos que alcançam resultados surpreendentes, mesmo diante do problemático Ensino Médio brasileiro, etapa crucial e que explicita a mazela da evasão escolar e, paradoxalmente, o quanto nossos alunos podem ser impactados em seu desenvolvimento humano pela educação. Dimensiona ainda o quanto esse precioso capital humano é desperdiçado. O Brasil ainda investe pouco em educação. Falta ainda objetividade dentro das próprias redes de ensino, em meio aos muitos e sucessivos equívocos das políticas educacionais, da necessidade de revisar o currículo, sobretudo no Ensino Médio. É preciso um olhar gestor que vá além do insistir nas mesmas soluções, que já se mostraram ineficazes ou com resultados aquém das metas estabelecidas. Tem muita relevância os programas de ações afirmativas, como o PAAIS (Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social, da Unicamp). Há também os que ingressam através do Sisu – Sistema de Seleção Unificado, em que o aluno precisa ter desempenho meritório no Enem – Exame Nacional do Ensino Médio.

O desempenho no Enem é também o critério da Unicamp para a inserção de alunos das escolas públicas, através do Profis – Programa de Formação Interdisciplinar Superior, que em sua primeira formação inseriu alunos concluintes do programa em diversos cursos da universidade. Alguns dos selecionados também ingressaram pelo vestibular tradicional da universidade, um dos mais concorridos do País, o que evidencia o potencial desses alunos e indica existir outros talentos e capacidades, lamentavelmente, desperdiçados. A maioria dos alunos de Ensino Médio público, não está inserida nesses processos pelos limites de alcance dos programas de inclusão, por desinformação ou falta de incentivo.

Há muitos desafios envolvendo o Ensino Médio. Alguns já citamos aqui. Há ainda o desafio, este urgente, da sua universalização. Situação que não se deve analisar de forma isolada e sim em todo o percurso escolar, da educação básica, do Fundamental e do Médio. Impressiona, por exemplo, o número de alunos que não chega a concluir nem mesmo o Fundamental, supostamente universalizado. É menor ainda a quantidade dos que chegam ao Ensino Médio, cuja evasão é significativa.

Segundo dados recentemente divulgados no relatório De Olho nas Metas, do movimento Todos pela Educação, 3,6 milhões de crianças e jovens entre 4 e 17 anos estão fora da escola. A maioria desses, cerca de 2 milhões, se situam na faixa etária entre 15 e 17 anos e deveria estar cursando o Ensino Médio. Há indicadores apontando que esses jovens deixam a escola tradicional para buscar formas de inserção no mercado de trabalho.

É preciso, então, ampliar a oferta do Ensino Médio público, inclusive noturno, que vem sofrendo drástico esvaziamento em sua oferta. Aspecto que merece análise mais detalhada e muito além de fatores meramente quantitativos.

Há jovens que, após concluir o Ensino Fundamental, ingressam no mercado de trabalho. Ficam sem a chance de concluir o Ensino Médio, sem o curso noturno público. São simplificadoras as alegações de técnicos das redes públicas, que falta demanda para o noturno. Nessa etapa final da educação básica brasileira a taxa de evasão de 2010 foi 10,3%, bem maior que as dos anos iniciais (1,8%) e finais (4,7%) do Ensino Fundamental.

De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), citados no mesmo relatório, 40,3% dos jovens evadidos deixam o sistema alegando falta de interesse. Evidência da necessidade de revisão e atualização do currículo e adoção de estratégias pedagógicas que produzam interesse e motivação.

O citado estudo mostra também, nesse universo, uma preocupante defasagem etária: 31,6% dos jovens entre 15 e 17 anos, tempo de ensino médio, ainda estão no ensino fundamental. Dimensionar esses dados desafiadores, decifrá-los e buscar soluções, urge, pois o desperdício do rico capital humano precisa ser superado. Para que nosso IDH avance.

Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 28/03/2013
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