Governar para a cidade
O poeta municipal discute com o poeta estadual/ qual deles é capaz de bater o poeta federal... (Política Literária — Carlos Drummond de Andrade)
O trecho do poema, de Carlos Drummond de Andrade, publicado na obra Alguma Poesia, de 1930, nunca foi tão atual na política brasileira, em tempos de eleições municipais. Neste domingo, Campinas, assim como ocorrerá em diversas outras cidades grandes e médias pelo Brasil afora, escolherá, em segundo turno, o seu prefeito para o próximo quadriênio. O eleitor, no recôndito da urna, tomará a decisão de acordo com a sua consciência e, com certeza, pensando numa cidade melhor. A eleição, em Campinas, reveste-se de importância adicional. O eleito responderá pela gestão de um município que luta para sair de uma crise política sem precedentes na sua história recente. Crise que, inevitavelmente prejudicou a gestão pública da cidade, com sucessivas trocas de prefeitos, eleição indireta e a instabilidade decorrente de um tumultuado processo.
Ressalte-se não ser por acaso que Campinas é a cidade mais importante do Interior paulista e brasileiro, posição que se sustenta no conjunto dos diversos indicadores sociais, como renda e desenvolvimento. Seu laborioso povo, para quem o novo prefeito deve governar, sempre teve papel protagonista na construção desta importante metrópole. A cidade, nessas eleições, evidenciou ainda mais sua importância, pela dimensão das autoridades estaduais e federais, grandes líderes políticos populares passaram por aqui, reforçando apoio aos candidatos que disputam o segundo turno. Não serão esses, no entanto, que administrarão diretamente uma cidade que merece e quer ser bem administrada. Embora espera-se que a atenção das autoridades não se restrinja apenas ao momento dos interesses eleitoreiros. Que haja a participação do estado e da federação para que Campinas volte a ter gestões memoráveis que a colocaram na vanguarda de práticas administrativas sérias e inovadoras. Com quadros capazes, que a cidade tem, neste objetivo. Deve, portanto, o prefeito eleito ter atenção na composição de sua equipe.
E, um fato importante e que marca fortemente este atual pleito é que os recentes escândalos, que expuseram a cidade de forma muito negativa, jamais se repitam. Passada a eleição, o novo prefeito terá que administrar a cidade para todos os seus habitantes e olhando para a responsabilidade que a cidade, como sede de uma importante região metropolitana, tem para si e também para além de suas fronteiras. E será a hora dele, como prefeito eleito, buscar aquilo que é de direito de Campinas, tanto nas esferas estaduais quanto no âmbito federal. E os desafios são e serão imensos. Urge dar novos rumos à caótica saúde pública em Campinas que muito tem prejudicado aos muitos que dela dependem. Da mesma forma, o desafio de implantar uma política social inclusiva que, entre outras ações, retire moradores da rua da situação indigna em que se encontram, incompatível com as dimensões de riqueza de Campinas, dando-lhes a oportunidade de serem efetivamente cidadãos, com moradia, emprego e renda.
Que implante um programa de apoio ao desenvolvimento profissional para jovens e adultos de forma a que haja acesso às perspectivas que o desenvolvimento e a pujança da cidade, centro tecnológico, industrial, comercial e de serviços. Fazer sair das intenções inócuas um intenso processo de revitalização da área central, mudando o cenário atual que chega a ser desolador em vários aspectos. Situação que se relaciona com outro grande desafio, uma política cultural ampla, a partir do poder público municipal, a partir dos equipamentos públicos, fazer retomar com uma agenda abrangente, funcionamento dos teatros municipais e que articule com as organizações que, na ausência da ação cultural pública, promovem a cultura na cidade, casos da CPFL Cultura, do SESI e do SESC, ação cultural e educacional, organizações que se vinculam à prestação de serviços, à indústria e ao comércio, em indicadores qualificados que caracterizam a cidade. Problemas de trânsito, abrir avenidas para grande fluxo, transporte público, retomar a malha ferroviária desativada, falta de moradia, ampliar vagas nas creches e melhorar a qualidade do ensino, ter papel de proeminência na cobrança às autoridades federais e estaduais no item segurança, investir em espaços públicos de lazer.
Enfim, governar para a cidade. Que a faça sair da letargia e, definitivamente, do recente caos político, para aquilo que é de sua verdadeira vocação: inovação, desenvolvimento e qualidade de vida. Governar para o bem desta grande cidade, é o que se espera do eleito.
Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 28/10/2012
Governar para a cidade
Reviewed by Edison Lins
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