eleições - O voto evangélico

Em tempos de eleição, os candidatos estão de olho no voto dos evangélicos. Afinal, juntos, segundo recentes levantamentos, os evangélicos representam aproximadamente 25% do eleitorado brasileiro, de 135 milhões de pessoas. Atualmente, um universo de 33 milhões de eleitores, que se espalha por todas as cidades brasileiras.

Os evangélicos constituem o segundo maior segmento religioso do Brasil, e caracteriza-se pela grande diversidade denominacional. Muitos evangélicos ficam incomodados diante de análises que circulam sobre o seu voto, muitas vezes de forma generalizadora, sem considerar que o segmento evangélico é diversificado em seus ramos de pensamento. Há os protestantes históricos, os pentencostais e os neopentecostais e mesmo assim é possível que os três grupos não incluam todas as várias correntes. As instituições evangélicas têm plena autonomia administrativa e eclesiástica em relação às outras igrejas congêneres, e todas fazem parte de um mesmo movimento religioso que começou com a Reforma Protestante de Martinho Lutero em 1517. Parte expressiva das denominações religiosas protestantes mantém relações fraternais umas com as outras.

Na eleição de 1989, ficou para muitos que os evangélicos eram todos eleitores de Fernando Collor de Mello, o que não correspondia à realidade. Houve voto evangélico para outras candidaturas, como em Mário Covas e Lula, então outros candidatos. Há tempos os evangélicos são considerados eleitores-chave. O voto evangélico, como ocorre em situações de generalização, já causou polêmica na eleição presidencial de 1989. Com a divulgação dos dados referentes à religião do Censo 2010, a importância do grupo foi endossada em números. O crescimento dos evangélicos no Brasil pressiona candidatos e partidos a criar estratégias para atrair fiéis e, ao mesmo tempo, evitar desgastes com a exposição de uma agenda moral que entre em conflito com outras crenças e segmentos da sociedade. Afinal, em tempos recentes o protestantismo arrebanhou 16 milhões de pessoas. Os evangélicos ganham atenção e posição decisiva nas eleições em geral. Para onde se inclina a preferência do evangélico há chance de haver vitória. Entretanto, esses aspectos quantitativos reforçam a necessidade de qualificar o voto evangélico.

E, assim, a referência deve se apurar se o candidato, em especial o que se diz evangélico, de fato pratica aquilo a que se propõe. Muitos candidatos se apresentam como um produto. É preciso eleger candidatos que tenham compromisso com políticas públicas efetivas que respondam às mudanças necessárias para melhorar a vida da população, que combata o estado de degradação e de aumento de violência que assola nossas cidades. Em 2010, o voto evangélico considerado em uma abrangência nacional, já demonstrou sua importância. Marina Silva mereceu o destaque que teve no primeiro turno graças à mobilização de boa parte das igrejas evangélicas pelo seu nome. A candidata obteve 20% dos votos da nação sem dispor de dinheiro para campanha e nem de logística competitiva, se comparada às outras candidaturas.

Significativa parte do eleitor evangélico move-se com sua congregação. Como o judeu opta por eleger judeus, o árabe dá preferência aos da mesma linhagem, os filiados a partidos que se desdobram pelo candidato da mesma legenda, o evangélico, não raras vezes, também se empenha por ver a vitória do autêntico cristão que se candidata a cargo público. E o voto do evangélico também está relacionado a uma teia de variáveis. Dependendo da cidade e dos candidatos, existem especificidades; sejam denominacionais, ligações partidárias, interesses pessoais, entre outras.

Na falta de candidatos evangélicos, o eleitor pesquisa e se vale muito da opinião do líder. O líder que tem o coração de sua comunidade por sua prática, que conquistou a confiança dos seus com seriedade, lealdade e vida honesta tem capacidade de influência como formador de opinião. O tempo do menosprezo pelos votos dos evangélicos passou. Parcela da população que se expressa de modo coeso, os evangélicos estão no centro das grandes estratégias eleitorais partidárias. Diante dessa realidade, toda diretriz de campanha que realmente quiser ser competitiva há de reconhecer e valorizar a força do voto evangélico, cuja decisão deve considerar a essência qualificadora, a favor da vida plena, baseada na fé que professa. O que merece reflexão e atitude dos evangélicos, qualificando seu voto, tendo como parâmetro uma sociedade melhor, coerente com a essência da sua fé.


Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 21/09/2012
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